sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Epitáfio - Nirvana

Não chorem por mim...
...Aportei no impossível nirvana,
A freneticamente buscada felicidade chegou...
Agora, em comunhão com o divino e com a divindade,
...Longe das dores dessa perturbação vital...
Mas lamentem por suas próprias existências,
Vidas medíocres, necessitadas...
Caminhadas de buscas insólitas,
Eu mergulho em mundo abissal...
No incompreendido nada,
...Agora estou em gozo absoluto.

Imagem: WEB
 

Silêncio


Silêncio é pura fenda,
Por onde escapa o grito...
Das entranhas da alma,
Ensurdece o atento ouvinte,
E fala o sujeito!

...Escutar o silêncio,
É ouvir o indizível,
Nele circula puro real,
Emersão de si...

E fala-se como jamais,
Escutemo-lo!
Ouçamos-lho!
Logo ali está!

Ausência-presença,
E o inacessível e puro nada...
Que é...
Absolutamente tudo...

Image: WEB
 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Afetos inconvenientes...para quem?!

Coisa estranha é essa vida humana...
...Para além de qualquer aqui e agora,
Há sempre um outro a completar nossa história,
Que independe de qualquer lógica e razão,

Então, o que é ser feliz?!
...É iludir-se nessa completude...
Ou, ...ver vibrar sua inquietude juvenil,
O brilho do seu olhar...uma alma linda.

Ah, Sua presença faz vibrar todos os meus sentidos!
Será que posso, de fato, dizer que te amo?!
...Estarei eu a me confessar?!...
Fadado a uma impossibilidade...talvez!

A felicidade é sentir a doçura de seus gestos...
...Talvez já precise me recolher!
Embotar certos afetos tão inconvenientes...
Para quem?! Para mim?! Para você?! Para o mundo?!

Mas já sonho com o infinitude dos tempos...com o pó das estrelas,
...Seguir caminho até desaparecer no tempo,
Protagonista de uma história banal,
Em meio a tantos desencontros fatais...

Eros: Imagem da WEB
 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Ordem e Progresso

Não há poder,
Depois do golpe,
Há vazio,
E desordem.

Não há progresso,
Que se desfaz no dia a dia...
Há negociatas,
De imundos poderes.

Não há futuro,
Para incautos cidadãos...
Há carnaval de horrores,
E galopante exclusão. 

Imagem: WEB


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Ideal de Eu

Há tempos imemoriais sigo em teu encalço...
Numa tentativa enlouquecida de me definir,
Rasguei minhas próprias entranhas à tua procura,
Depois, voltei-me para além de mim,
Numa busca frenética pelas entranhas do mundo,
Agora..., reconheço em mim pedaços do que tu és,
Pedaços disformes...e que apenas falam de ti...
Pedaços que me habitam,
Loucamente, tentei extinguir tuas marcas!
Já não sabia quem sou...
...ou mesmo quem tu és,
Vã ilusão!
Não há nada lá fora...
Extinguir-te seria extinguir a mim mesmo,
Quem sou...
E tu, um outro tu... 
...Não és...absolutamente nada...

Imagem: Da peça Nada a Dizer

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Insônia

Adentramos juntos a madrugada...
...Um inebriante colóquio amoroso,
Há doçura, suavidade e sinceridade em sua companhia!
Altiva e faceira, carregou-me para lá e para cá,
Um verdadeiro enlace de vidas vadias,
Esse é nosso instante-já absoluto,
Em que ela,
Solidária...
Faz-me encontrar mesmo comigo,
Há tempos nos havíamos abandonado,
Seu retorno é pura e irreverente distração...
Mas, seja bem-vinda, querida!
...E sinta-se à vontade...
Puxe a coberta...e proteja-se...
Faz frio...na solidão...
Aconchegue-se!
Ouçamos juntos o silêncio que fica...
...Depois de mergulhos nos abissais de mim,
...Pequena amostra...
...De quando sairmos para fora do círculo do tempo...

Imagem: WEB

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O Phallus e o Ser

Liberdade não é a questão,
Circula-se em seu entorno,
Definitivo algo a mais,
Que vai muito além,
Muito além de sua origem...
...Como sangue vermelho,
Circula nas veias,
Que alimenta células,
Torna vida possível,
Dá sentido à uma impossibilidade,
E vai para além,
...Que oprime,
Mas que produz pessoa,
Impor-se a Ele é produzir um lugar,
É definir um Ser,
Viver é saber lidar com seus efeitos,
E não é do domínio do possível a liberdade,
...Conjugada em tempo comum,
Libertar-se é um aprisionar-se atravessado,
E, finalmente, ser completamente livre...
Em aprazível prisão...
 
Imagem: WEB

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A outra Sagração da Primavera

Porque é preciso romper a persona,
Expor as fendas da alma,
...E amargar mergulhos profundos,
Em lugares abissais.

Fúria de mil vulcões,
...Eis a emersão de mim,
E retumbam em intensidades.

Água doce, terra seca...e fogo.
Amalgamam-se em cataclismos violentos.
...E nasce no semiárido a doçura,
Devastação da caatinga espinhosa.

Mas, teu corpo,
Solo delicado e sagrado,
Não ousaria jamais tocar,
...Dociliza-se o ímpeto agreste,
Em meio à bruma...
...E verdes pinheirais...

Imagem: Himerus
 

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Cronos, Eros e Psiquê

Gosto dessa coisa assim,
Que anoitece...
Que refresca...suaviza e envolve a pele...
Que vai dando lugar à doçura,
Que traz quem já não mais está...
Gosto do silêncio e da calma,
Que faz pensar...mergulhar em profundidades abissais...
Que invade os labirintos de mim...

Gosto daquele sorriso,
Que me acariciava o espírito...
Que escancarava as portas do mundo...
Gosto da inquietude daquele ser,
Que me trazia energia...
Que me estimulava a vida...
Gosto daquele olhar,
Que dizia, e insistia, que ainda há muito a descobrir...
Que disfarçava o medo e a insegurança...mas que ia e vai adiante...
Que desnudava a alma vibrante...gigante...incomensuravelmente bela...
Que se expande em gestos de tamanha nobreza...

Mas todos os caminhos são indefinidos,
Não há caminhos traçados,
Todos os caminhos são construídos...
...Mas há o hiato do tempo...
E ele, o tempo, que grande gozador!
Chronos brincalhão, uniu-se a Eros e a Psiquê,
Para me fazer brincar de viver...

Imagem: Polidoro castrando Chronos, Da Caravaggio

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Alicerce para a própria Desgraça

Ah, a insuportável crueza de um ser comum!
Emocionalmente imaturo,
Analfabeto político,
Gado de corte,
A retórica tosca denuncia um cérebro vazio,
...Ser levado pela correnteza,
Moldado pelo interesse do outro,
Inerte diante da própria vida,
...E do mundo,
Beirando abismo colossal,
E torna-se fundação mais que perfeita,
Da construção alheia...
Sem pensar,
Sem discernir,
...Toda sua ação advém de um simples empurrão,
Direcionado,
E ele vai...
Humilhado,
Castrado,
Sem mesmo o saber...
Agente inútil para a vida,
No seio de manada tresloucada,
Em nada interfere no meio,
...Alicerce político da própria desgraça...

Imagem: WEB Protestos

Novo Tempo de Trevas

Hoje, 2016
Invade-me sensação, sem melindres,
Sem dó, sem piedade...
Mesma sensação que tinha há muito, muito tempo,
Antes, 1976
Anos idos da ditadura militar...
Anos inúteis para entender, de fato, o mundo...
Antes, 1976
Ali, sentia-se que tudo estava no seu devido lugar,
Que nada de mais acontecia, que o mundo era ingênuo,
Puro como a música da jovem guarda...
Antes, 1976
Só que não, tudo acontecia...
Coisas horríveis aconteciam aqui,
Nos bastidores da paz...
Antes, 1976
Vida pulsava para além de nós,
Mas não nos era permitido saber, sentir, ver...gozar...
Antes, 1976
Ouvia-se Linha do Horizonte,
Mas não se sabia o que havia Além do Horizonte,
Antes, 1976
Sou único...
Não há ninguém como eu...deformado,
E o mundo é perfeito...
Antes, 1976
Éramos seres idiotizados...e inocentes,
Úteis, inúteis...
Pobres de nós!
Hoje, 2016
Voltamos no tempo...
...Novo tempo de trevas... 

Imagem: Do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol 
 

Inebriante

E surgem os primeiros raios do sol...
...Eu a imaginar o calor de ti...
No nascer da manhã,
E essa invasão de desmesurada luz,
...Emana de seus olhos...
Tão vivos, tão negros e tão brilhantes,
...O cheiro da manhã é inebriante,
Como o cheiro doce de sua pele...

...E perceber toda a vibração de um dia,
Doce e caudaloso...
A delicadeza da brisa fresca...
É como a suavidade dos seus braços,
Medrosos a me envolver,
O corpo e a alma...
...Num aconchegante abraço de ternura...e paz...

Imagem: WEB
 

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Doce Aura

Abrem-se círculos de afetos,
Anima-se o espírito,
O que sinto é base,
Base de ilusão?!

O que não sinto...
Mas é,
Percebo?!
Doce aura que me ilude...

Sujeito-me a isso,
Sujeito-me a ti...
E isso está em mim,
E reinvento-me no outro.

Numa costura de palavras,
Costura de afetos,
Medo e esperança se entrelaçam,
A solução é simples...

...É a beleza da vida.

Imagem: WEB

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Primavera

Primavera,
Desponta,
No nosso horizonte...

Desfazem-se amarras,
Severo inverno,
Do corpo,
Sinais de erupção vulcânica.

Cores,
Odores de flores,
Verdes amores,
...E alegria.

Abre na lembrança,
O sorriso gigante, distante,
Infante...

Mas,
É só mirar,
Nem está tão adiante,
Só imaginar...
E o sorriso volta,
Já, já...a iluminar.

Imagem: WEB

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Deixe eu inventar...Beija-flor

Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade...

Quero amor de beija-flor,
No meu jardim de fantasias,
Ah, não há solidão...
Para quem consegue olhar,
E se encantar,
Com a beleza do mundo.

Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade...

Amo,
Amo muito,
Toda essa beleza,
Ao redor,
E quero ver,
Ver muito mais,
Com aquele olhar.


Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade...

O brilho daquele olhar,
Faz tremer a lua...de tamanha inveja,
E o mel,
Que da boca lhe escorre,
Poderia adoçar o mundo inteiro.


Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade...

Somos um instante-já,
Momento mágico,
Que jamais existiu,
...Que não voltará a existir,
Mas que É...
...No tempo.


Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade.

Imagem: WEB

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

M...de Menino (Efebo)

Irrompe num sorriso,
Da penumbra da noite,
Doçura do dia,

A poesia daquele olhar,
Abre o sol da manhã,
Doce ilusão,
Loucura do coração,

Belo como o sol,
Da primavera,
Que desperta para além de desejos,
Puros sentimentos,

Doce criatura,
Efebo apenas emerso,
Pleno de energia,
...E vontade de saber,

Suave como a brisa da manhã,
Cedinho se faz gigante,
...E envolve a alma secular,
Ressecada pela vida,

Suas ondas de mar,
Sugerem grande movimento,
Faz a alma rodopiar, dançar sem parar,
...E faz cantar.

Imagem: WEB

Sombras

Sombras da noite,
Ardor de desejos,
Calor das paixões,
Incendeiam corpo e alma,

E pulsa, pulsa, pulsa,
Corações ufanos,
E trepidam chamas na fogueira das vontades,

Amor ardendo...
Aceso o júbilo nas sombras,
Suave a compulsão,

Que escorre,
Escorre nas veias,
Amor liquefeito,
Vermelho e viscoso,

Fervilha inquietação,
Entregue à sua imensidão,
Mundo desconhecido...
Pulula imaginação.

Imagem: Michelangelo's Tytus

terça-feira, 6 de setembro de 2016

De mansinho

De mansinho,
O passado engole o futuro,
Constói pontes...
Para reconstruir os caminhos,
Da casa Grande.

De mansinho,
Produz, assim, uma engenharia do caos...
Para o povo,
A suposta ralé...que tanto incomoda...

De mansinho,
Pisoteia com galhardia,
A esperança de milhões,
Recém saídos da fome,
Que já dá sinais de vida,
E renascimento.

De mansinho,
O tão sonhado abrigo,
E por muitos alcançado,
Rui como castelo de cartas.

De mansinho,
A esperança torna-se pasto,
Para os algozes da pátria.

Pátria amada...idolatrada,
Salve, salve...
Desde sempre...ultrajada.

Imagem: "Inferno" Satan as described by Dante and painted by Botticelli

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Solidão

Solidão nos
Desertos da
Existência,
Solidão nos
Rincões do
Sertão,

Solidão nas
Ruas da
Cidade,
...Repleta de
Mulambos humanos,
à beira dos
Abismos da fome,

Solidão nos salões
Burgueses,
...Bonjour, Messieurs, Dames!
à beira dos
Abismos da alma,

...Todos se enganam...
E espreitam a morte.

A vida sentida,
...Repleta de solidões.

Imagem: WEB

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Cheiro Doce

E a luz invade o mundo...
E de mansinho substitui as trevas,
Revelando mais um raiar do dia,
Uma nova alegria invade a alma,
Alegria de ser...de apenas ser...
E há calmaria, como a brisa nas manhãs do campo...
Cheiro doce de manhã,
Como o cheiro do café, do leite quente e fresco, do cuscuz...na memória da infância longínqua,
E ela convida para levantar e viver...
E a alma relembra, e baila, exuberante, num salto de tantos anos,
E se enche assim do gorjeio dos pássaros de outrora,
E se deixa envolver pela brisa suave...
Como seus braços a me agasalhar,
Ave manhã cheia de graça,
Que promessas fez?!
...jamais cumpriu.

Imagem: WEB



Voltei para casa

Sou um ser deslocado no tempo,
Imerso de profundas fendas,
Um contemplador de nossas humanidades desumanas,
E mergulhei em espaços abissais,
Apenas para contemplar...
Nosso tempo não tem mais tempo,
E nenhum tempo sequer o terá...
Sou halo de um tempo perdido no tempo de ser,
Para ser,
Eternamente insisti em emergir do não ser,
E para além do tempo estou...
E de qualquer tempo, na face deformada do tempo,
Indelevelmente na memória,
Voltei para casa..

Imagem: WEB

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Violência Banida

Somos seres deveras violentos,
Capazes de atrocidades inimagináveis...
Um dia, em algum lugar no tempo, separou-se deus e o diabo,
Eis a mais refinada forma de manipulação,
...Da civilização judaico-cristã...
Domínio dos pares,
Cordeiros oferecidos em sacrifícios,
Apenas, se quer deles a carne saborear,
Da luta se produz o medo...
Ao separa deus e o diabo,
...não haverá mais controle do diabo,
Eis a lógica do avesso!
Espíritos desavisados não hão de assim pensar...
E o diabo,
Livre de qualquer controle,
Pode agir na sombra,
Impunimente.
Liberdade, Liberdade!

Flor do Desejo

De minhas profundas sombras,
Escuridão do não-ser, outro ser...outro eu...eu...
Emerge a mais perfeita de todas as criaturas,
Atravessa como um raio o espaço-tempo,
Viceja no infante o mais incontrolável desejo,
E acende no corpo um empuxo de alma,
Flamejantes afetos que o circundam,
Ardentes labaredas emanam de divina criatura,
Do fundo dos bosques, do seio da mata...homem, menino, animal...divindade...
Cada parte daquele corpo é templo à adoração,
Aguça-se assim mais e mais e mais desejo,
E a carne rija, encouraçada-abençoada, se faz trêmula,
Rasgam-se os limites impostos pelo pátrio poder,
Flor do desejo em seu desabrochar,
E a lassidão na entrega ao senhor de imensas trevas, de escuridões,
Mobiliza sentidos para um encontro fatal...
E por fim, enfim...o desfazimento liquefação de nós,
...em gozo absoluto.

Imagem: WEB

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Para além de todas as coisas

O bem e o mal se complementam,
Unem-se numa dança sublime,
Corpos ardentes que se atraem...e sofregamente se devoram,
Sem o outro aquele um não poderia existir,
E enlaçam-se na volúpia de um profundo beijo,
Brincam e confabulam tal qual crianças arteiras,
Num intrigante jogo de avessos,
Somos dois do mesmo...para além de todas as coisas...
Eis o cordeiro de deus,
Que se entrega ao pecado do mundo!

Imagem: WEB

Orgasmo

Um olhar me liga ao firmamento,
Imediatamente, traduz o indizível em mim,
Dá-se a sedução do infante,
Cordeiro ofertado para a ceia do senhor,
E entrego-me...com receio,
Sem receio...titubeio...
Meio sem jeito, dou os primeiros passos em um caminho incerto,
Mas, ela começa a se avolumar em mim,
E domina todos os meus sentidos,
E libera o desejo,
Uma onda de imenso prazer,
Os ardores no corpo fazem vibrar a alma,
Uma erupção de indescritível potência,
...E rasgo-me qual louco,
Louco em direção aos céus,
Ciente, presente, potente,
Inconsciente, entregue,
E sou...sou...sou...sou...sou...sou absolutamente comunhão com deus.

Imagem:WEB

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Negação

A eternidade é fria e distante...
O interminável é morte,
Vida é erupção vulcânica,
Avesso da morte e da eternidade...
Borbulham explosões de afetos,
E não se adia o amor!
Água para a urgência da sede...
Sede é para quem vive...e ama.
Viver e amar é negação da morte, da eternidade, e de deus...

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Susto

De repente tomei um baita susto...
Descobri que a redoma que me protege é inquebrantável...
Não há pedra ou Pedro que a possa transpor.

Ah, foi mesmo um baita susto!
Maldito cuidado...
Me vi completamente nu!

Achava sinceramente que fosse mais livre.
Que pudesse voar...
Como borboleta em jardins do Éden.

Sou pedra sem Pedro...
Esperando Godofredo, talvez!
...apenas para fingir sobrevida.

Antítese para iguais

Desafio por excelência,
O maior de todos os adversários,
Está aqui dentro...

Dorme-se com ele,
Caminha-se com ele,
E fazemos amor,
Fingimos gozar...

Amar é mais do que o que está,
Melhor acordar talvez...
Ou continuar a sonhar?!
Tanto faz.

Perceber faz parte de um instante-já,
Entre dois modos de ser,
Antítese para iguais....

Nós e a Palavra

Rasgar-se até expor o avesso daquilo que se é...
Ou que se acredita ser.
Encobrir com a palavra esse avesso,
Sem contudo, deixar de projeta-lo por símbolos,
Ou deliciosas palavras...
Ah, os desígnios da compreensão,
Dos deslocamentos reveladores do que se pode ser no mundo,
Do ser para si...e para o outro?!
O outro que encanta e que se rechaça...
O outro da vida, e o outro da morte,
Que reconstitui a possibilidade de vida,
Sou de dois mundos,
Dois mundos cruéis...
Um é visceral, e o outro...palavra.
Sou ele e eu, e ousamos pensar que somos dois...
Quando somos apenas um,
A esconder-se no outro da palavra...

Velho

Às vezes, me pego velho e exaurido...
Não, não, não,
Acho que sou um velho...
Mas, por ser velho,
Não deveria olhar a realidade com sabedoria?!
Ou não, não, não,
Não sou velho, apesar do envelhecimento...
Então, sou um farrapo humano,
Esgarçado pelo tempo de ver, tempo de saber...
Tempo de fazer...
E para quê?!
Nada a ver,
Nada a transformar,
Nada a mudar,
Nada a transmutar...
Sim, sou um velho farrapo humano esgarçado pelo tempo,
Na corda bamba, entre o ver e o negar,
Já estou morto em algum lugar...
E o mundo gira, gira, gira,
Cumpre o que não consigo mais olhar.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Outrora Salgadinho, ...dos Caetés

Ah, Re-gi-nal-do!
O riacho espelho...
Tão profundamente maltratado!

Um dia enlaçou-se com o mar verde e lindo dos alagados do sul...
Nesse enlace ficou salobro,
O tempo humano por onde fluiu tratou de desconstrui-lo!
Só os Caetés o viram tão límpido e...salgadinho...

Os invasores dos alagados do sul,
Ah, esses! Te usaram, abusaram, maltrataram...maltratarão...
Te fazem esgoto! Nosso adorado e sagrado esgoto!
Ali, onde se escondem, mas onde se cultua, aquilo que não se ousa dizer...

Mas eles não podem, jamais poderão se livrar de ti.
Porque és verdade, és avesso, és espelho do que não se quer ver...
És o espelho que denuncia tamanho avesso.
Aquilo que se nega...podridão!
E seguem iludindo, se iludindo, caminho afora,
Caminhando e cantando ilusão...
E o visitante da Ponta Verde...

Oh, linda e doce Ponta Verde! És um álibi mais que perfeito.
Mas a verdade sobre os alagados do sul é salgadinha,
É Salgadinho que, putrefato, se espalha...e fede...fede muito...
E emite a fedentina a quem ousar, desavisado, se aproximar,
É o que somos, Abaporu, antropofágicos carniceiros...

Intelectofóbica nação caeté,
Ilha paradisíaca dos alagados do sul...
Onde graça a lei do mais podreroso,
Combatente mantenedora da ignorância, de uma profunda desrazão,
E o Salgadinho?! Por isso é mantido assim,
Da forma como é...

Nosso sinuoso altar em louvor de nós mesmos...
Onde ratos emitem sinais de sua peste emocional,
Uma ode ao avesso, às nossas regiões abissais,
Que se disfarçam em docilidade e subserviência...
Ave Salgadinho!
O que fizeram de ti?!
Transformaram-te na mais que perfeita metáfora,
Para lacaios invasores dos alagados do sul...

Abismar-se

O que é o mal?!
A força de um ato por vezes banal,
Imperceptível a olho nu,
Olhos ingênuos, os vossos!
Da desumanidade humana...
Se se esvai, roto, o pensamento,
Ei-lo a ocupar um lugar,
A se mostrar à luz...majestade...
Para quem ousar se abismar,
Espantar-se com a profundidade do abismo...
Vontade de mergulhar!
É preciso cuidar, persona!
Sem a prisão do saber,
Encontro decisivo e fatal...
Eis o tempo para a maldade,
Tão demasiadamente humana,
Para além daquele que se acredita ser,
Além do corte preciso e necessário...
Para além de nossa desumanidade marota,
Aquela do dia-a-dia...do chiste, tão refinado e pueril...
Para muito, muito além da sombra.


terça-feira, 17 de maio de 2016

Liberdade

Ah, a luta pela liberdade!
O que isso significa?!
Que liberdade?
Onde está a liberdade?!
Estou preso a ti...estás preso a mim...
A qual liberdade te apegas?!
Uma busca continuada de motivos para a vida...
Encontrar uma medida razoável ao gozo do oprimido e do opressor,
Os gritos de dor e de prazer são inaudíveis,
São emitidos em outra frequência,
Ah, invada-me e alce voo ao gozo imperfeito!
Não, não me extingas, não te extingas ainda...
Há muito prazer nesse porvir,
Antes do gozo absoluto,
Antes mesmo de atingirmos o tão almejado Nirvana...



Filho do Homem

E deus se fez homem,
Para quê?
Para nos salvar?!
Não...
Para provar o gozo da morte,
E, lambuzado no prazer,
Retornar ao nada absoluto,
Recriando para os demais,
A ilusão da vida...
E assim,
Continua-se a projetar no filho do homem,
O gozo da própria morte...


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Oprimido e Opressor

A intelecto fobia não é de um lugar,
Ou de um tempo...
Ou de uma cultura específica,
Ela é atemporal,
É antes um sintoma...
Sintoma de um caráter fascista,
Um mecanismo de defesa atuante,
Desconstrutor de possibilidades,
Daquele que já não pode mais se libertar do opressor,
...Por ama-lo loucamente,
Desmesuradamente,
E, por ter com ele,
Uma relação de gozo sadomasoquista perfeita.



sexta-feira, 6 de maio de 2016

Para Leon Trotski, nascido Lev Davidovich Bronshtein

Surge uma centelha de ilusão...
"Iskra" da linguagem!
"Iskra" do pensamento que diverge...
A querer incendiar o mundo com a doçura da igualdade...
No campo de batalha,
Majoritários e minoritários disputam sem nenhuma igualdade!
A dissidência é um rio vermelho,
Que corta o chão campesino...
O letrado é polêmico porque revolucionário,
ou seria o contrário?!
Avante! Para onde?!
Mergulhado no mundo simbólico da linguagem,
Não há como não ser revolucionário...
Emissário de um desejo...o letrado carrega testamento,
Mas é herdeiro sem pátria...
Rejugiado pelo mundo afora,
Aqui, alí, acolá...permaneceu no ostracismo...
Mas ele é real, ele realmente existiu!
E sucumbe ao ódio de dois lados...
Rive droite, rive gauche!
Desapareceu em meio a letras,
Símbolos representativos da linguagem que praticava.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Borboletas no Cio

Meu desejo não cabe em mim, nunca coube, jamais caberá...
Não cabe em modelo algum autorizado pelo Outro,
O Outro que arranquei das entranhas há muito, muito tempo,
Eiva-se assim a nobre criatura...perversa,
Um grande avesso ao que se espera do natural do mundo,
Palavras, delicadas palavras e verbo...
Ah, minha natureza é de todas as possibilidades...
Metamorfoseei-me desde o ventre,
Livre-ventre, ventre-livre,
Liberto em um imenso frenesi...
Um pulsar estrondoso, farfalhar de asas,
Expulso do paraíso...
Expulso das ilusões do poder, do não poder, do não ser!
Vago à deriva, ao encontro da morte,
Do sempre renascer, numa imensa nau pulsional,
Incendeia-me o corpo, a alma,
Fervilha-me o ser...
Desejo, desejo-me, desejo-te...
Perceba-me!
Perceba-se!
Não somos absolutos papeis,
Somos borboletas no cio...

Desejo de Morte

A miséria humana torna deus possível,
E os homens,
Seus filhos,
Meras impossibilidades.
A miséria torna possível a comiseração do rico,
Que por meio de deus,
Justifica a miséria do mundo,
E alija do pobre qualquer possibilidade de ser.
Ah, deus! Quem és?!
Que mundo criastes?!
...ou criaram a ti para subverter a lógica do desejo...
...desejo de morte...

Sobrevive-se

Sobrevive-se por aí,
Aos trancos e barrancos,
A um mar de estruturas perversas...
Parece que se mergulhou fundo,
Num obscuro tempo do não ser,
Tempo de miséria perversa narcísica,
Tempo de versar vários cálices,
Em honra e glória de belzebu...

A Mulher

Imposta a voz em lugar do medo!
Rompe com as ideologias,
As estruturas e a aridez da miséria a ti imposta, e que te corrói,
Desperta e apropria-te de ti, do teu ser...
Do teu próprio corpo,
Sedento do mais sublime desejo de vida,
Enfim, decide e vai...
Abandona a casa-pater, a casa-mater, o maldito Lar...
Arranca de ti o papel menor que te levou o vil patriarcado,
Medonho, fascista...
Perceba que há muitas outras como tu,
Tu as verás por toda parte se olhares ao redor,
Ei-las refletidas em tua imagem quando miras o espelho,
Elas são muitas, milhares, e clamam pela mesma liberdade,
Ajuda-te a conquista-la e carrega-as contigo...
Assim, sereis milhões a enfrentar esse mundo fálico,
Conquista-o e incorpora-o a teu ser...
E agora, está pronta para reinventar o mundo,
A humanidade...
E enfrentar a morte, o fantasma da castração...
Para finalmente ser...
Não um mero desdobramento do homem...
Mas, uma mulher a se descobrir mulher.

Geni - o obituário oficial

Eis pois a causa mortis da cidadã Geni,
Que resolveu amar, para muito além da medida,
Desmedidamente humana...
Humanamente sem medidas...
Liberta na  escuridão da cidade que a ignorava,
Caminhou, sempre cuidadosamente, sobre pontiagudas pedras,
Por fim, se entregou!
E foi tropeçando em pedras que inscreveu,
Finalmente, o gozo último de sua vida...
Morreu Geni...
...e a cidade ficou nua...
Tabor Santa Geni, ano da graça de 1980.

O Lugar e o Nome do Pai

O pai está fora da Lei...
E goza de incomensurável liberdade,
Liberdade e infinitude negadas ao filho...
Ele está, enfim, morto,
O pai, então é deus...
E deus está morto,
E enquanto morto, vive, e reina absoluto sobre seus filhos...
Livres na prisão.
O lugar do pai é cerceamento, totalitarismo e opressão...
O nome do pai é corte...de salvação.

Imagem: Saturno devorando seu filho - Francisco de Goya

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Para Alexander Martins Viana

Ah, meu desejo!
Meu desejo é multiforme,
Não cabe na medida forjada pelo Outro...
Sou muitos Eus que se expandem para muito além de mim,
Sou papillon, farfale...libertad!
Esvaio-me para muito além de ti,
De teus ritos, mitos...
Não sou medida,
Sou possibilidades infinitas.
Ah, meu desejo!
Não cabe sequer em mim...

Máquina de Pensar

O corpo clama por gozo...e o desejo o tortura...
Queria morrer um milhão de vezes, antes do juízo final.
Meu corpo é máquina de pensar...e o pensar circunda toda a pele...
E lambuza-se em círculos de poder que o tentam limitar...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Olhar de Morte

Sol da manhã,
A luz ilumina o orvalho caído,
O corpo treme ainda da garoa da noite,
Coberto por gotas orvalhadas de horror,
O orvalho que envolve a noite,
O orvalho que envolveu o corpo,
O corpo abandonado na relva,
Corpo abandonado pelo mundo, por seus pares,
Agora, alí está, entregue ao deleite de olhares,
Corpo maltratado por carícias do abandono,
E o sono, o sono, o sono,
Sono antes abandonado na cama,
O inerte passante não sente o pedido no olhar,
Olhar de morte...
...a se aproximar...

Amo-te

Sim, amo-te por tudo aquilo que não é...
E que para mim és,
Sem na verdade sê-lo...
Falta cortante, dilacerante, fulminante...
E tu me amas por acreditar,
Doce ilusão!
Acreditar que sou para ti o que jamais serei para nós dois,
O que no íntimo não sou sequer para mim mesmo,
O Outro é sempre o espelho daquele Um,
E aquele Um busca naquele Outro o que acredita ser seu,
Roubado, castrado, extirpado...
E que, no final das contas, nada não há...
Amo-te,
Porque carregas a marca do que não sou ,
E nunca poderei ser,
Amas-me porque te dou a ilusão do que acreditas que te falta,
Mas que, no fundo, não tenho para te dar,
Somos duas faltas complementares,
Que se iludem e se eqilibram numa doce manhã de primavera...
Doce manhã de ser...
Doce ilusão de ter.

Cinzas

E agora as cinzas de um hiato,
Um hiato de explosão orgástica...
Uma ilusão, um contraponto ao ilusório Phallus de deus....
Ó deus, por que não me encaras de frente?!
Por que não me olhas nos olhos,
E também não enfrentas o temido espelho?!
Há muito perdestes o Phallus, mas não o admites, e jamais o farás...
Ó deus, por que não encaras verdadeiramente a minha falta?!
Falta que também, e principalmente, é tua e definitivamente tua,
Ah, je sias, tu t'en fous pas mal!
Há muito te apiedas desses teus miseráveis homens,
Pobres criaturas errantes, faltantes e vis....
Tu sais, ils s'en foutente de toi!
Ce qu'ils veulent vraiment c1est ce que tu n'as pas...
Ó deus, por que não os libertas de ti?!
Esses teus filhos, crentes criaturas criaoras,
Que por sentirem o peso da falta te criaram à sua imagem e semelhança...
Desde sempre se degladiam em teu nome,
Apenas para confirmar aquile que, absolutamente, não tens...
Ó deus, por que foges assim de ti?!
Je sais...
Tu t'en fous pas mal d'eux!
Criatura louca e castrada,
Que goza emextase com a miséria do mundo,
Entidade vil, forjada à imagem de seus filhos,
Que se lança em uma busca louca para confirmar um Phallus ilusório,
Um Phallus que ele próprio nunca teve...
Mas, assim mesmo, sempre o terá,
Por obra e graça de sua criatura crente criadora....

Phallus

Essa é uma das grandes verdades humanas!
Não é o pênis que faz o homem,
Mas o Phallus que o faz,
E também faz a mulher.
E esse danado tem vida própria em sua ação,
Sua ação que nos circunda,
Nossa travessia é sempre uma exposição ao desejo do Outro,
E, depois, requer uma força descomunal...
E uma coragem enormes para se autoafirmar diante da vida e desse mesmo Outro.
Trava-se uma batalha e tanto com este distinto elemento....
Mas o grande prêmio é sempre o alcance da liberdade....
Da liberdade possível.

Outra Dimensão

Como é difícil embotar esse desejo,
Sublima-lo por estares em outra dimensão,
É visceral a vontade de ter você...

Horror

O horror ao horror é o desejo implícito de gozo,
Implicado na ação de morte subjetiva do próprio sujeito...,
Não do Outro,
A miséria e a morte animam o olhar do passante,
Cândida senhora, virgem (i)maculada,
Cândido Machado, também desejoso de gozo,
Sim, ele sabe onde buscar o gozo...
E os pequenos miseráveis, diante da senhora tão cândida,
Apenas denunciam o seu avesso,
Eis aqui um acordo mórbido com deus!
Eu gozo na sua miséria, sua falta,
Mas que há em mim, sempre como uma possibilidade de não-ser...
Assim, não se pode duvidar do Phallus de deus...
Nem o próprio deus poderia,
Por isso precisa do miserável que o confirme pela miséria...
E eles, os pobres miseráveis, promovem para a quela senhora da flata,
O gozo necessária para que permaneça cândida, embora não...
Isso mantém o equilíbrio das estruturas que possibilitam uma continuidade,
Continuidade de gozo,
O gozo eterno de deus sobre seus pobres e miseráveis...

Doces Delírios

Há anos não vivencio os doces delírios de um bom carnaval...
Folias, entregas, confetes, sonhos, serpentinas,
Há anos acordo sempre na quarta-feira de cinzas...

Linguagem da Alma

O corpo é a linguagem da alma,
Expressão do mais profundo desejo,
Do sujeito que o habita.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Perigo nas Cercanias da Vida

Por estes dias, tive um pensamento revelador,
Sabe, acho que nunca amei!
Será que o enorme sentido de liberdade,
Que há muito se enraizou em mim,
Nunca me permitiu amar?!
Ou será este sentido de liberdade uma autoproteção  tão eficaz,
Que nunca sequer percebi seus efeitos?!
É verdade, vivi paixões loucas pela vida afora...
Paixões que só o desejo compreende,
Paixão por quem, definitivamente, não podia amar,
Mas amar, acho que não!
Só não consegui definir ainda se fui eu que não permiti,
Ou se ninguém ainda havia conseguido chegar em mim,
E por que pensar nisso exatamente agora?!
Há perigo nas cercanias da vida...

Catarse & Gozo

Não sou poeta absolutamente,
E jamais pretendi sê-lo,
Apenas me jogo em catarses,
Experimento travessuras com a língua,
Ejaculando letrinhas,
Emito discursos sem que, às vezes, tenham nenhum nexo,
Sem sexo, ou anexo,
Mas que são deveras sexualizados,
Transformo dores, horrores e doçuras em palavras vãs.
Para mim, acumula-las, de nada serve,
Então esvazio a alma daquilo que se avoluma,
E incomoda,
Emito esse acúmulo de mais de gozar para além de mim,
E nesse exato momento de descuido verborrágico,
Desconecto-me de espíritos rasos.
...e gozo, gozo, gozo, gozo, tornando-me raso também...

Afagos de Ausências

Por que despertar esse desejo?!
Para cumprir um papel nesse louco mundo perverso e gozador?!
Ah, minha fortaleza é tão frágil!
Sou um enganador,
Doce ilusão que sobrevive exatamente por não vir à luz,
Por que despertar esse desejo?!
Se há muito encasulei no breu o meu afeto,
E apaguei todas as luzes,
Sobrevivo dos afagos de ausências,
Por que despertar esse desejo?!
Se não podes chegar a mim no corpo em que habito?!
Mas, assim mesmo, vou renascendo pelo caminho,
Renasço a cada instante absoluto em que nesse mundo,
Eterno e perverso gozador,
Me fazes acordar para sonhar...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Cartografia

Também tenho cicatrizes n'alma,
E as afago com carinho...
Não porque a dor original ainda incomode,
Afago-as porque elas me definem,
Gritam, dizem de mim...
Fazem parte da minha cartografia,
Do corpo profundamente marcado,
E projetam-me para tudo o que posso ser...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Faltas

Quem sou eu?!
Quem és tu?!
Tu só existes como projeção do meu avesso,
O avesso onde não és,
E onde, de fato, também não sou,
O avesso que se define num nada por trás de mim,
Minha deliciosa possibilidade de não ser,
Se não fosse o teu nada, me serias indiferente,
Enfim, somos os avessos de duas ilusões,
E transformamos o sublime nada no paraíso de nossas efêmeras paixões,
Loucos, gozamos em nossos avessos, gozamos onde não somos,
E eu te amo!
Te amo onde encontro a minha falta,
E te odeio porque a tens...
Na verdade, nos enganamos, e nos vemos presos na armadilha de deus...
Ah, deus, esse ser mitológico que nos produziu para o não gozo, ou para o seu próprio gozo...
Nos transformando em brinquedo para a sua eternidade,
E o ódio que me faz te amar, ilusoriamente me completa,
A ilusão do amor, engendrada por ele (o dito deus), me define eternamente teu,
Isso quer dizer que te amo?!
Sim, eu te amo!
Eu te amo porque, docemente, denuncias a minha falta!
Sim, eu te amo!
Eu te amo exatamente onde não sou, e nunca serei,
E onde tu...
Tu jamais poderás existir.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O Vazio do Tempo

E assim se foi o sopro de vida,
Na leveza de uma brisa suave,
Como um doce farfalhar de asas,
Percebe-se, assim, o vazio do tempo,
E ali onde já não sou,
Percebo, atônito, que já havia partido,
Estou morto,
Há muito, muito tempo...
E hoje transmutado em história,
Sou memória de vida não vivida, bem vivida, mal vivida,
A suprir os vácuos de qualquer tempo.

Aconchego do Olhar

Vem me abraçar,
Sentir o meu ocaso,
Do gozo nos teus braços,
Identificação de afetos...
"Sou fácil de lidar",
É tão doce esse projetar,
Como o aconchego do olhar,
Seu perfeito habitat,
Vem colher esse abraçar,
Não paro de me identificar...
Desde o dia em que o acaso,
Projetou-me o teu olhar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A Morte do Profissional Idealista

A sensação que invade a alma,
De maneira tão devastadora,
É a de chegar ao termo de uma ilusão.
Mas, o tempo passou,
Um tempo de muito trabalho,
De muito estudo e de muito apoio,
Por acreditar no objeto,
E assim tentar acreditar no grande engodo,
Acreditar no discurso,
Acreditar na possibilidade,
Pricipalmente, possibilidade de ética, de lisura, de desenvolvimento...
Mas tudo que não tem muita consistência termina por ruir..
Pois, como já dizia o filósofo, até "tudo que é sólido se desmancha no ar"?!
Será que nada mais é possível, nad mais será possível?!
Enquanto não houver ética,
Enquanto não houver seriedade na administração pública,
Menos politicagem!
Fica muito difícil ser possível.
Mas, e se, como já advertiu uma pensadora,
Ética em nossa política é algo impossível, ou mesmo, na melhor das hipóteses, algo que está muito distante?!
Mas, e quando não se consegue ver mais que isso um dia seja possível?!
Quando se esgota toda a possibilidade de empreender uma saída?!
O que fazer para continuar sobrevivendo no espaço-tempo?!
Isto é algo a ser refletido...pensado...
Por mais caótica que seja a situação, mesmo no olho do furacão é preceiso refletir,
É preciso planejar a saída, esteja ela onde estiver...
Se estiver...
E assim morre um profissional idealista...
Que a eternidade cuide do seu ideal!

Nadie

No llores por nadie...
La muerte es la liberación absoluta
De los dolores de la maldita vida!
No llores por nadie...

Malas Prontas

Malas prontas...
Coração resolvido...ou, resignado.
Partir...para a terra do nunca, lugar de sonho, mágico talvez...
Uma joia rara, tipo uma pérola negra,
Encasulado no ostracismo da indiferença para o tempo...tempo de ninguém...
Prisioneiro da nobreza para a qual foi criado...talvez mal criado...
Por diversas vezes, tentou romper a casca que o prende e se perder no mundo...
Sempre se dá mal e volta.
Voltou pois, ao seu casulo...aos seus livros, 
às suas lembranças de um tempo que nunca houve...
Partiu e voltou à imensa solidão de ser ele mesmo...
O amor de deus é sublime...é ele que o sustenta...mas é um amor mítico,
Sublimação do amor.
Amigos, não os tem às pencas...graças a deus!
Sim, sua mãe, e seu amadíssimo pai o acompanharão para sempre...
Mas, hoje, são também lembranças de uma amor que teve...
Foi concebido com amor como prêmio ao ser amado...
Hoje, de fato, está só, e é apenas ele mesmo...
Cansado de doces quimeras...
Cansado de ilusões!

Acasos

A vida é feita de acasos,
Não perca o trem da sua história,
Acasos são únicos e não se repetem.

Sou Tão Velho Quanto o Mundo

Sim, sou muito velho...
Sou tão velho quanto o mundo,
Mas quero mais é viajar,
Conhecer e tocar cada pedacinho,
Por mim ainda desconhecido,
Dessa imensa obra das naturezas, divina!
Um dia, talvez, deitar e pensar:
Não há mais aonde ir, passar, o que sentir...
E então, finalmente, morrer, voltar ao pó...
Quem sabe após degustar uma garrafa de um excelente Merlot...
Sou assim, exageradamente embriagado...
Ah, sou muito mais velho que o próprio mundo...

O Ser e o Não Ser

O ser e o não ser
Se completam
Num bailado sem fim...

Coerência

Falem-me de coerência?!
Cuidar do bem-estar social,
Defender o trabalhador,
Diante da sanha voraz e criminosa,
Do capital...
Ser responsável pela fome de seus pares...
Falem-me de coerência?!
Tenho receio de tamanha...

Solidão

Solidão,
Vem dançar comigo,
Nos teus braços um abrigo,
Tua mão,
Enlouquece meus sentidos,
Explosão,
Compromete o véu caído,
Apelo vão,
Bons parceiros, quase amigos,
Solidão,
Utopias e quimeras,
Só.

A Palavra e o Silêncio

A explosão da palavra liberta por reorganização construtiva,
E não apenas para saberes novos,
Mas também para outras posturas,
Antes estabelecidas por tamponamentos culturais.
Os silêncios ensurdecedores são forjados culturalmente,
Para a docilização de corpos,
Mas, também,
No espaço-tempo do mundo,
Fervilham guerrilhas.

Ser Humano

Eis aqui um ser humano,
Que agoniza nos braços de um outro...
Provavelmente perdeu o horário do banquete,
Nos palácios,
Nas embaixadas,
Nas mansões,
Nos restaurantes de luxo,
Eis aqui um ser humano,
Que jaz à sombra de outros tantos seres humanos,
Que provavelmente não irão gostar da estética da imagem...

Humanidade

Assim caminha a obscura e perversa humanidade...
Negando-se a si mesma e construindo ilusões...
Mas, um tropeço, e o desavisado passante cai em si.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Fatos e Histórias

Hoje o sol apareceu,
Lindo!
As araucárias estão verdes,
Mas elas sempre estão verdes!
Parecem não se afetar com as tormentas do tempo,
Depois da tormenta que se abateu sobre a cidade,
Coisa feia!
Árvores caídas, casas destelhadas, pessoas em pranto,
Daqui do alto fico a olhar os que passam,
Vão e vêm!
Parecem trilhas de formigas,
Os passantes, ocupando suas vidas com afazeres cheios de sentido,
Sem sentido!
Cumprem um ritual milenar,
Viver é assim, defender-se da natureza,
Da própria, inclusive!
Criar fatos e histórias para dar sentido à vida,
Tamponar o ócio!
Cumprir a imensa necessidade humana,
De justificar o nada!

Ser Psicólogo

Ser psicólogo não é uma tarefa simples,
Também não é uma decisão isenta,
Exige antes de qualquer coisa o Ser.
Ser psicólogo é enveredar por caminhos tortuosos
À cata de fantasmas,
Para, então, com eles dialogar,
Ser psicólogo é antes de tudo ser gente,
E gente que gosta de gente, de fato.
E gostar de gente não é apenas acolher, em parte, o Outro,
Mas a complexidade de um ser dual,
Pele de asno, hidra com duas cabeças.
 Enfim, ser psicólogo, na relação com esse Outro,
É eximir-se de preconceitos, de julgamentos,
E, tecnicamente, de si mesmo nessa relação,
Respeitando a sua decisão.
Além disso, ser psicólogo, é fazer uma busca constante de muitos saberes,
Em diversas dimensões do conhecimento humano.
Ser psicólogo é acolher as dores do existir,
E não só a desse Outro, mas também as suas próprias,
Possibilitando por emio desse acolhimento,
Não apenas a existência em si mesma,
Ms verdadeiramente o Ser.
Ser psicólogo é saber mergulhar no mais profundo da alma humana,
E com ela jogar uma intrincada partida de xadrez,
Mas, e ao mesmo tempo, executar a exuberância de um sublime e sublimado
Tango.

A Vida

A vida é um hiato
Ao gozo absoluto,
Uma erupção
Resplandecente,
Uma explosão
Entre dois nadas
Abissais.

Povo Brasileiro

Enquanto o povo brasileiro não revisitar sua história e,
Definitivamente, enfrentar o espelho,
Ou o fato de que somos frutos de invasão e pilhagem,
Repetirá ad eternum o sintoma da corrupção,
E outras mazelas que se seguiram à farsa do descobrimento.
Isso é como encarar-se de frente,
Sem subterfúgios, sem deslocamentos criminosos,
Sem vilipendiar o outro, comparsa da história,
Enfim, aceitar o sintoma como tal, e a partir daí assumi-lo,
Entender suas raízes e tentar resolve-lo,
Ou aprender a lidar com ele, no intuito do bem comum,
Por isso, neste caso,
O aporte fundamental é a história, e a técnica é a sua dissecação e análise,
Para, finalmente, poder-se seguir em frente.

Alagoas

Minha estonteante terra natal!
Pedacinho de paraíso com cheiro doce de maresia,
Onde uma brisa constante circula e acaricia a pele,
Disfarçando perigosamente o poder do sol,
Escaldante e abrasador.
Ali, a docilidade e o fascismo contraíram núpcias,
Há, muito, talvez desde tempos imemoriais,
Num acordo mórbido e exterminador,
De possibilidades e humanidades.
Já não comiam a carne humana os Caetés?!
Hoje, os poderosos Caetés,
Reivindicadores dos alagados do sul,
Continuam a se banquetear,
Mas não mais puramente da carne,
Isso é refugo do processo do capital: seca, fome, miséria,
Mas da alma de suas presas, os "dóceis Caetés",
Que neste enlace, digno de uma tragédia Shakespeareana sadomasoquista,
Se complementam num gozo mortal e perene.
Um pedacinho de paraíso, repleto de verde mar,
Extensos coqueirais a se perder o olhar,
Zona da mata viçosa e caatinga, lindamente retorcida,
Onde, dócil, o artista da vida e o da arte cantam sua beleza sem igual,
E encantam, porque cumprem as determinações culturais de um Hades paradisíaco,
Sempre sob o olhar perverso e vigilante de um poder fascista,
Que os arrasta a um não pensar para além da beleza pictórica do lugar,
...e sob pena de afogamento sumário, no paraíso...
Das águas...

O Naufrágio

A humanidade não está naufragando,
Se assim fosse, há muito já estaríamos no fundo,
A humanidade é o naufrágio.
Desde que, sabiamente, entendemos e aceitamos que nosso habitat não é o centro do universo,
Mas apenas uma ínfima parte dele,
Iniciamos uma viagem profunda e necessária.
Esse foi um golpe extremamente duro em nosso narcisismo,
Mas ficamos melhores, e ainda há muito o que caminhar.
Há muito o que desconstruir da nossa profunda soberbanarcísica,
Do nosso egoísmo venal,
Até aceitarmos que somos um ínfima parte deste mesmo pequeno habitat,
E que todos que nele habitam,
Têm o mesmo direito a ele e a tudo que nele há,
Enquanto a luz solar assim o permitir.
Talvez, entender e aceitar isso, seja o grande passo,
Quiçá o definitivo e mais importante,
Para vislumbrarmos uma possível salvação de nossa humanidade.

A Farsa

Não interessa ao capital a individuação do sujeito,
Mas a confirmação da pessoa,
Da persona social e socialmente ativa,
Pois a construção de ethos desejante do que se produz em série,
É o que lhe sustenta a existência.
Um processo de (des)qualificação subjetiva,
Que levaria não apenas a um saber do impossível,
Mas a um saber da singularidade,
Desconstruiria a farsa do capital que,
Sem sustentação,
Aprofundaria sua crise e abalaria sua lógica.

Mente

Mente,
Lasciva
Mente,
Supera os limites que há
Em ti,
Mente,
Ardente
Mente,
Penetra o íntimo que há
Em mim,
Mente,
Calma
Mente,
Derrama o orgasmo que há
Em nós.

Essência de Mim

Espírito inquieto,
Romperá o invólucro,
Te queres fugir,
Essência de mim.
Onde quer que vás,
Se lograres sair,
Não te podes ir,
Sem mim.

Sublimado e Sublime

Sou a expressão de círculos termináveis e intermináveis,
De possibilidades infinitas para os desertos da alma,
Sou a explosão de um orgasmo constrito, travado,
E que se quer expandir para longe, na imensidão,
E vem e vai, e vai e vem,
Assim, num bailado sublimado e sublime,
Sou o arauto de um eterno há-de-vir,
De impossível enlace com o tempo,
Sou música suave e densa a circular um intangível ser,
Absorvo, a mim e a ti, para muito além,
Não é impossível flu-ir...

Sou Nordestino

Fui feito do sal da minha terra,
Curtido pelo sol escaldante das Alagoas...
Terra dita e perpetuada nos mandatários marechais.
Sou nordestino cabra da peste,
Destemido e guerreiro...
Sempre pronto a empunhar a espada da justiça...
E, favor de toda a minha gente...
Ogunhê!

Jerusalém

Oh, Jerusalém,
És vil e atemporal!

Quanto queres para comigo dormir?!
Paristes três filhos, mas nãos lhes ensinastes a coexistir!
Diga-me o que tanto atrai em ti?!
Jerusalém,
Quanto ainda irás cobrar para continuar a existir?!

Por que seduzes os infiéis?!
Por que a tantos encantas, e estes não te podem resistir?!
Jerusalém,
Quem hoje te paga para, assim, descaradamente, sorrir?!

Quantos ainda irás aniquilar em tuas entranhas?!
Ah, Jerusalém,
És velha e sagaz cortesã daqueles que ainda hão de vir,
Daqueles que possam te garantir a reconstrução...
De um permanente e sombrio futuro!

Finais de Tarde

Adoro os finais de tarde...
Ver o sol deitar no horizonte,
E o dia a se despedir, sereno, suave e calmamente,
E o dia a dar lugar à noite,
Cheia de mistérios, possibilidades, ilusões,
Não sei o porquê!

Tu

Sinto-te assim,
Perfeito e muito além de mim...
Sou apenas um simples fauno,
Com minha pequena flauta doce,
E que ousa em tentar te encantar,
Mas tu pareces tão distante,
Tu já conquistastes o Olimpo...
Para a ti chegar, eu tomaria, sem pestanejar, o caminho das estrelas...
Não exitaria um único segundo em me lançar na tua direção,
E, ao chegar, me embriagar desse saber e dessa imensa doçura...
Mas seria mais fácil chegar a deus, o ser impossível,
Para além da concha do universo...
Eu jamais conseguiria chegar a ti...

Duas Realidades

Sou fruto de duas realidades distintas e complementares,
Sou mescla de coração selvagem e intelecto rebuscado...
Portanto, não me tente endurecer o coração,
Nem me amolecer o intelecto,
Não há como cindir tal união em mim...

Já Sei

Não,
Não...
Não quero ver,
Não quero ouvir,
Não quero sentir,
Não quero saber,
Isso é o que dói,
Dói,
Dói...
Saber destrói?!
Não, desconstrói!
Constrói,
Já sei,
Tá aí.

Vai Chegar

Tem horas que dá uma enorme vontade de implodir,
Mas implodir o entorno, essa canalha circundante, e sumir...
Mandar todos para a puta que os pariu e, finalmente, encontrar o caminho da liberdade...
Ah, mas esse dia há de chegar, se bem me conheço...vai chegar...
E relembrando a fala do Cristo sobre o destino do templo, não sobrará pedra sobre pedra...

Sentir-te nas Palavras

O sublime que resiste à prisão da palavra,
Mas que, assim, se revela or ela...
Sublimação!
E, se revela, revela a encantadora e mais que deliciosa nobreza do ser...
Revelação!
Ah, mas ainda sou un enfant!
E essa nobre revelação me devolve a ilusão...
Submeto-me!
Persecução de um ideal?
Talvez!
Enuviamento do ideal de eu?
Provável!
Saber-te assim, imenso e caudaloso inunda e alimenta minh'alma...
Sentir-te nas palavras faz queimar a pele que arde de desejo...
Sou fogo que queima suave em meio a um deserto siberiano!

Recherche Éternelle

Espraie-se em mim um misto de admiração, espanto e medo...
Un mélange de sensations brutales...
Como prenúncio de um orgasmo divino, jamais sentido...
Penso que diante de tamanha nobreza,
Não conseguiria dizer uma única palavra...
Sou apenas um pobre infante e, portanto, como infante nesse reino, jamais serei rei...
Infantes não ascendem, infantes são naturalmente destronados...
Da profundidade de minha pequenez, percebo que é muito mais,
És a magnitude de um grande ser...
Melhor você lá e eu cá, no meu cantinho de infante...
Toujours à la recherche du royaume perdu...
Mas, mesmo assim, é muito bom sentir essa vontade imensa...
Completude ilusória, éternellement recherchée.

Existência Perfeita

Uma leve brisa sopra incessantemente sobre pradarias,
Balouçando ervas e flores do campo que adocicam o ar,
A vida e as criaturas se com-fundem, e nos irmanamos,
Faz-se, em mim, a sensação do mundo ideal,
O sonho da existência perfeita,
O sonho que, suavemente, invade a alma,
Ocupa o espírito sedento de esperança,
Esperança de amor e paz, impossíveis ao ser,
Assim nasce dia após dia, Francisco (o dito santo) em mim,
Transformando o lugar impossível em lugar de esperança, de amor e de paz.
Por favor, nunca me abandone!

Somos Seres Humanos!

Aqui se vislumbra, como um clarão atômico,
A negação pelo homem do real do poder,
Onde não se quer saber da carniça por ele produzida,
E assim caminha-se, desde sempre, nas estradas da civilização,
Como se fosse preciso ao homem,
Viver permanentemente imerso numa cegueira saramaguiana,
E o é, não nos iludamos!
Até quando alguém, desavisado, e por motivos nada altruístas,
Expõe a carniça que se produz por trás da máscara civilizada,
Emerge, de súbito, o humano, desumanizado, real!
Tal mecanismo de negação nos faz acomodar,
Nos entorpece, e nos mantém impolutos diante da existência,
Somos seres humanos!
Assim o é também nas relações com o estado,
Cujo único controle possível é a exposição de sua produção fétida,
A história está repleta desses momentos sublimes!
O homem mantém o homem serviçal para não se deparar com a própria merda,
É preciso, veementemente, negar!
Mas o que o homem esquece é que o Outro também é Outro homem,
E a merda desperta....e só ela pode libertar para a produção...de novas,
alheias, e infinitas merdas...
Talvez, no fundo, queiramos, de fato,
Nos manter juntos no inferno!

Escada da Vida Real

Essa é a escada da vida real, na capital federal,
Aqui as pessoas se encontram com a humanidade desde sempre,
Elas cagam, mijam, fodem e se drogam na calada da noite da capital...
Por perto, manchas de sangue escurecem o granito...
Merda, mijo, porra e sangue riem às gargalhadas da civilização...
E aqui deixam os vestígios de seus atos humanos para os transeuntes de cada manhã...

Liberdade-Libertação

Exerce-se o espaço de liberdade-libertação pela palavra,
Meio legítimo, demasiadamente humano,
Veículo perverso e singular pelo qual se vivenciam transferência,
E contra-transferências com o inconveniente e necessário Outro.
A palavra, expressão do pensar, liberta e incomoda.
Há tempos o método catártico tenta nos curar de nós mesmos,
E incomoda porque denuncia que não há libertação sem o viver na prisão.
Eis aqui nosso desvio do natural da Natureza!
O pensamento pode ser livrem subversivo,
Mas precisa da palavra, que o aprisiona,
Para ser para si e para o Outro.
A palavra é nosso maior símbolo de liberdade-libertação...na prisão!