sexta-feira, 15 de julho de 2016

Negação

A eternidade é fria e distante...
O interminável é morte,
Vida é erupção vulcânica,
Avesso da morte e da eternidade...
Borbulham explosões de afetos,
E não se adia o amor!
Água para a urgência da sede...
Sede é para quem vive...e ama.
Viver e amar é negação da morte, da eternidade, e de deus...

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Susto

De repente tomei um baita susto...
Descobri que a redoma que me protege é inquebrantável...
Não há pedra ou Pedro que a possa transpor.

Ah, foi mesmo um baita susto!
Maldito cuidado...
Me vi completamente nu!

Achava sinceramente que fosse mais livre.
Que pudesse voar...
Como borboleta em jardins do Éden.

Sou pedra sem Pedro...
Esperando Godofredo, talvez!
...apenas para fingir sobrevida.

Antítese para iguais

Desafio por excelência,
O maior de todos os adversários,
Está aqui dentro...

Dorme-se com ele,
Caminha-se com ele,
E fazemos amor,
Fingimos gozar...

Amar é mais do que o que está,
Melhor acordar talvez...
Ou continuar a sonhar?!
Tanto faz.

Perceber faz parte de um instante-já,
Entre dois modos de ser,
Antítese para iguais....

Nós e a Palavra

Rasgar-se até expor o avesso daquilo que se é...
Ou que se acredita ser.
Encobrir com a palavra esse avesso,
Sem contudo, deixar de projeta-lo por símbolos,
Ou deliciosas palavras...
Ah, os desígnios da compreensão,
Dos deslocamentos reveladores do que se pode ser no mundo,
Do ser para si...e para o outro?!
O outro que encanta e que se rechaça...
O outro da vida, e o outro da morte,
Que reconstitui a possibilidade de vida,
Sou de dois mundos,
Dois mundos cruéis...
Um é visceral, e o outro...palavra.
Sou ele e eu, e ousamos pensar que somos dois...
Quando somos apenas um,
A esconder-se no outro da palavra...

Velho

Às vezes, me pego velho e exaurido...
Não, não, não,
Acho que sou um velho...
Mas, por ser velho,
Não deveria olhar a realidade com sabedoria?!
Ou não, não, não,
Não sou velho, apesar do envelhecimento...
Então, sou um farrapo humano,
Esgarçado pelo tempo de ver, tempo de saber...
Tempo de fazer...
E para quê?!
Nada a ver,
Nada a transformar,
Nada a mudar,
Nada a transmutar...
Sim, sou um velho farrapo humano esgarçado pelo tempo,
Na corda bamba, entre o ver e o negar,
Já estou morto em algum lugar...
E o mundo gira, gira, gira,
Cumpre o que não consigo mais olhar.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Outrora Salgadinho, ...dos Caetés

Ah, Re-gi-nal-do!
O riacho espelho...
Tão profundamente maltratado!

Um dia enlaçou-se com o mar verde e lindo dos alagados do sul...
Nesse enlace ficou salobro,
O tempo humano por onde fluiu tratou de desconstrui-lo!
Só os Caetés o viram tão límpido e...salgadinho...

Os invasores dos alagados do sul,
Ah, esses! Te usaram, abusaram, maltrataram...maltratarão...
Te fazem esgoto! Nosso adorado e sagrado esgoto!
Ali, onde se escondem, mas onde se cultua, aquilo que não se ousa dizer...

Mas eles não podem, jamais poderão se livrar de ti.
Porque és verdade, és avesso, és espelho do que não se quer ver...
És o espelho que denuncia tamanho avesso.
Aquilo que se nega...podridão!
E seguem iludindo, se iludindo, caminho afora,
Caminhando e cantando ilusão...
E o visitante da Ponta Verde...

Oh, linda e doce Ponta Verde! És um álibi mais que perfeito.
Mas a verdade sobre os alagados do sul é salgadinha,
É Salgadinho que, putrefato, se espalha...e fede...fede muito...
E emite a fedentina a quem ousar, desavisado, se aproximar,
É o que somos, Abaporu, antropofágicos carniceiros...

Intelectofóbica nação caeté,
Ilha paradisíaca dos alagados do sul...
Onde graça a lei do mais podreroso,
Combatente mantenedora da ignorância, de uma profunda desrazão,
E o Salgadinho?! Por isso é mantido assim,
Da forma como é...

Nosso sinuoso altar em louvor de nós mesmos...
Onde ratos emitem sinais de sua peste emocional,
Uma ode ao avesso, às nossas regiões abissais,
Que se disfarçam em docilidade e subserviência...
Ave Salgadinho!
O que fizeram de ti?!
Transformaram-te na mais que perfeita metáfora,
Para lacaios invasores dos alagados do sul...

Abismar-se

O que é o mal?!
A força de um ato por vezes banal,
Imperceptível a olho nu,
Olhos ingênuos, os vossos!
Da desumanidade humana...
Se se esvai, roto, o pensamento,
Ei-lo a ocupar um lugar,
A se mostrar à luz...majestade...
Para quem ousar se abismar,
Espantar-se com a profundidade do abismo...
Vontade de mergulhar!
É preciso cuidar, persona!
Sem a prisão do saber,
Encontro decisivo e fatal...
Eis o tempo para a maldade,
Tão demasiadamente humana,
Para além daquele que se acredita ser,
Além do corte preciso e necessário...
Para além de nossa desumanidade marota,
Aquela do dia-a-dia...do chiste, tão refinado e pueril...
Para muito, muito além da sombra.