terça-feira, 17 de maio de 2016

Liberdade

Ah, a luta pela liberdade!
O que isso significa?!
Que liberdade?
Onde está a liberdade?!
Estou preso a ti...estás preso a mim...
A qual liberdade te apegas?!
Uma busca continuada de motivos para a vida...
Encontrar uma medida razoável ao gozo do oprimido e do opressor,
Os gritos de dor e de prazer são inaudíveis,
São emitidos em outra frequência,
Ah, invada-me e alce voo ao gozo imperfeito!
Não, não me extingas, não te extingas ainda...
Há muito prazer nesse porvir,
Antes do gozo absoluto,
Antes mesmo de atingirmos o tão almejado Nirvana...



Filho do Homem

E deus se fez homem,
Para quê?
Para nos salvar?!
Não...
Para provar o gozo da morte,
E, lambuzado no prazer,
Retornar ao nada absoluto,
Recriando para os demais,
A ilusão da vida...
E assim,
Continua-se a projetar no filho do homem,
O gozo da própria morte...


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Oprimido e Opressor

A intelecto fobia não é de um lugar,
Ou de um tempo...
Ou de uma cultura específica,
Ela é atemporal,
É antes um sintoma...
Sintoma de um caráter fascista,
Um mecanismo de defesa atuante,
Desconstrutor de possibilidades,
Daquele que já não pode mais se libertar do opressor,
...Por ama-lo loucamente,
Desmesuradamente,
E, por ter com ele,
Uma relação de gozo sadomasoquista perfeita.



sexta-feira, 6 de maio de 2016

Para Leon Trotski, nascido Lev Davidovich Bronshtein

Surge uma centelha de ilusão...
"Iskra" da linguagem!
"Iskra" do pensamento que diverge...
A querer incendiar o mundo com a doçura da igualdade...
No campo de batalha,
Majoritários e minoritários disputam sem nenhuma igualdade!
A dissidência é um rio vermelho,
Que corta o chão campesino...
O letrado é polêmico porque revolucionário,
ou seria o contrário?!
Avante! Para onde?!
Mergulhado no mundo simbólico da linguagem,
Não há como não ser revolucionário...
Emissário de um desejo...o letrado carrega testamento,
Mas é herdeiro sem pátria...
Rejugiado pelo mundo afora,
Aqui, alí, acolá...permaneceu no ostracismo...
Mas ele é real, ele realmente existiu!
E sucumbe ao ódio de dois lados...
Rive droite, rive gauche!
Desapareceu em meio a letras,
Símbolos representativos da linguagem que praticava.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Borboletas no Cio

Meu desejo não cabe em mim, nunca coube, jamais caberá...
Não cabe em modelo algum autorizado pelo Outro,
O Outro que arranquei das entranhas há muito, muito tempo,
Eiva-se assim a nobre criatura...perversa,
Um grande avesso ao que se espera do natural do mundo,
Palavras, delicadas palavras e verbo...
Ah, minha natureza é de todas as possibilidades...
Metamorfoseei-me desde o ventre,
Livre-ventre, ventre-livre,
Liberto em um imenso frenesi...
Um pulsar estrondoso, farfalhar de asas,
Expulso do paraíso...
Expulso das ilusões do poder, do não poder, do não ser!
Vago à deriva, ao encontro da morte,
Do sempre renascer, numa imensa nau pulsional,
Incendeia-me o corpo, a alma,
Fervilha-me o ser...
Desejo, desejo-me, desejo-te...
Perceba-me!
Perceba-se!
Não somos absolutos papeis,
Somos borboletas no cio...

Desejo de Morte

A miséria humana torna deus possível,
E os homens,
Seus filhos,
Meras impossibilidades.
A miséria torna possível a comiseração do rico,
Que por meio de deus,
Justifica a miséria do mundo,
E alija do pobre qualquer possibilidade de ser.
Ah, deus! Quem és?!
Que mundo criastes?!
...ou criaram a ti para subverter a lógica do desejo...
...desejo de morte...

Sobrevive-se

Sobrevive-se por aí,
Aos trancos e barrancos,
A um mar de estruturas perversas...
Parece que se mergulhou fundo,
Num obscuro tempo do não ser,
Tempo de miséria perversa narcísica,
Tempo de versar vários cálices,
Em honra e glória de belzebu...

A Mulher

Imposta a voz em lugar do medo!
Rompe com as ideologias,
As estruturas e a aridez da miséria a ti imposta, e que te corrói,
Desperta e apropria-te de ti, do teu ser...
Do teu próprio corpo,
Sedento do mais sublime desejo de vida,
Enfim, decide e vai...
Abandona a casa-pater, a casa-mater, o maldito Lar...
Arranca de ti o papel menor que te levou o vil patriarcado,
Medonho, fascista...
Perceba que há muitas outras como tu,
Tu as verás por toda parte se olhares ao redor,
Ei-las refletidas em tua imagem quando miras o espelho,
Elas são muitas, milhares, e clamam pela mesma liberdade,
Ajuda-te a conquista-la e carrega-as contigo...
Assim, sereis milhões a enfrentar esse mundo fálico,
Conquista-o e incorpora-o a teu ser...
E agora, está pronta para reinventar o mundo,
A humanidade...
E enfrentar a morte, o fantasma da castração...
Para finalmente ser...
Não um mero desdobramento do homem...
Mas, uma mulher a se descobrir mulher.

Geni - o obituário oficial

Eis pois a causa mortis da cidadã Geni,
Que resolveu amar, para muito além da medida,
Desmedidamente humana...
Humanamente sem medidas...
Liberta na  escuridão da cidade que a ignorava,
Caminhou, sempre cuidadosamente, sobre pontiagudas pedras,
Por fim, se entregou!
E foi tropeçando em pedras que inscreveu,
Finalmente, o gozo último de sua vida...
Morreu Geni...
...e a cidade ficou nua...
Tabor Santa Geni, ano da graça de 1980.

O Lugar e o Nome do Pai

O pai está fora da Lei...
E goza de incomensurável liberdade,
Liberdade e infinitude negadas ao filho...
Ele está, enfim, morto,
O pai, então é deus...
E deus está morto,
E enquanto morto, vive, e reina absoluto sobre seus filhos...
Livres na prisão.
O lugar do pai é cerceamento, totalitarismo e opressão...
O nome do pai é corte...de salvação.

Imagem: Saturno devorando seu filho - Francisco de Goya