sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Olhar de Morte

Sol da manhã,
A luz ilumina o orvalho caído,
O corpo treme ainda da garoa da noite,
Coberto por gotas orvalhadas de horror,
O orvalho que envolve a noite,
O orvalho que envolveu o corpo,
O corpo abandonado na relva,
Corpo abandonado pelo mundo, por seus pares,
Agora, alí está, entregue ao deleite de olhares,
Corpo maltratado por carícias do abandono,
E o sono, o sono, o sono,
Sono antes abandonado na cama,
O inerte passante não sente o pedido no olhar,
Olhar de morte...
...a se aproximar...

Amo-te

Sim, amo-te por tudo aquilo que não é...
E que para mim és,
Sem na verdade sê-lo...
Falta cortante, dilacerante, fulminante...
E tu me amas por acreditar,
Doce ilusão!
Acreditar que sou para ti o que jamais serei para nós dois,
O que no íntimo não sou sequer para mim mesmo,
O Outro é sempre o espelho daquele Um,
E aquele Um busca naquele Outro o que acredita ser seu,
Roubado, castrado, extirpado...
E que, no final das contas, nada não há...
Amo-te,
Porque carregas a marca do que não sou ,
E nunca poderei ser,
Amas-me porque te dou a ilusão do que acreditas que te falta,
Mas que, no fundo, não tenho para te dar,
Somos duas faltas complementares,
Que se iludem e se eqilibram numa doce manhã de primavera...
Doce manhã de ser...
Doce ilusão de ter.

Cinzas

E agora as cinzas de um hiato,
Um hiato de explosão orgástica...
Uma ilusão, um contraponto ao ilusório Phallus de deus....
Ó deus, por que não me encaras de frente?!
Por que não me olhas nos olhos,
E também não enfrentas o temido espelho?!
Há muito perdestes o Phallus, mas não o admites, e jamais o farás...
Ó deus, por que não encaras verdadeiramente a minha falta?!
Falta que também, e principalmente, é tua e definitivamente tua,
Ah, je sias, tu t'en fous pas mal!
Há muito te apiedas desses teus miseráveis homens,
Pobres criaturas errantes, faltantes e vis....
Tu sais, ils s'en foutente de toi!
Ce qu'ils veulent vraiment c1est ce que tu n'as pas...
Ó deus, por que não os libertas de ti?!
Esses teus filhos, crentes criaturas criaoras,
Que por sentirem o peso da falta te criaram à sua imagem e semelhança...
Desde sempre se degladiam em teu nome,
Apenas para confirmar aquile que, absolutamente, não tens...
Ó deus, por que foges assim de ti?!
Je sais...
Tu t'en fous pas mal d'eux!
Criatura louca e castrada,
Que goza emextase com a miséria do mundo,
Entidade vil, forjada à imagem de seus filhos,
Que se lança em uma busca louca para confirmar um Phallus ilusório,
Um Phallus que ele próprio nunca teve...
Mas, assim mesmo, sempre o terá,
Por obra e graça de sua criatura crente criadora....

Phallus

Essa é uma das grandes verdades humanas!
Não é o pênis que faz o homem,
Mas o Phallus que o faz,
E também faz a mulher.
E esse danado tem vida própria em sua ação,
Sua ação que nos circunda,
Nossa travessia é sempre uma exposição ao desejo do Outro,
E, depois, requer uma força descomunal...
E uma coragem enormes para se autoafirmar diante da vida e desse mesmo Outro.
Trava-se uma batalha e tanto com este distinto elemento....
Mas o grande prêmio é sempre o alcance da liberdade....
Da liberdade possível.

Outra Dimensão

Como é difícil embotar esse desejo,
Sublima-lo por estares em outra dimensão,
É visceral a vontade de ter você...

Horror

O horror ao horror é o desejo implícito de gozo,
Implicado na ação de morte subjetiva do próprio sujeito...,
Não do Outro,
A miséria e a morte animam o olhar do passante,
Cândida senhora, virgem (i)maculada,
Cândido Machado, também desejoso de gozo,
Sim, ele sabe onde buscar o gozo...
E os pequenos miseráveis, diante da senhora tão cândida,
Apenas denunciam o seu avesso,
Eis aqui um acordo mórbido com deus!
Eu gozo na sua miséria, sua falta,
Mas que há em mim, sempre como uma possibilidade de não-ser...
Assim, não se pode duvidar do Phallus de deus...
Nem o próprio deus poderia,
Por isso precisa do miserável que o confirme pela miséria...
E eles, os pobres miseráveis, promovem para a quela senhora da flata,
O gozo necessária para que permaneça cândida, embora não...
Isso mantém o equilíbrio das estruturas que possibilitam uma continuidade,
Continuidade de gozo,
O gozo eterno de deus sobre seus pobres e miseráveis...

Doces Delírios

Há anos não vivencio os doces delírios de um bom carnaval...
Folias, entregas, confetes, sonhos, serpentinas,
Há anos acordo sempre na quarta-feira de cinzas...

Linguagem da Alma

O corpo é a linguagem da alma,
Expressão do mais profundo desejo,
Do sujeito que o habita.