sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Cronos, Eros e Psiquê

Gosto dessa coisa assim,
Que anoitece...
Que refresca...suaviza e envolve a pele...
Que vai dando lugar à doçura,
Que traz quem já não mais está...
Gosto do silêncio e da calma,
Que faz pensar...mergulhar em profundidades abissais...
Que invade os labirintos de mim...

Gosto daquele sorriso,
Que me acariciava o espírito...
Que escancarava as portas do mundo...
Gosto da inquietude daquele ser,
Que me trazia energia...
Que me estimulava a vida...
Gosto daquele olhar,
Que dizia, e insistia, que ainda há muito a descobrir...
Que disfarçava o medo e a insegurança...mas que ia e vai adiante...
Que desnudava a alma vibrante...gigante...incomensuravelmente bela...
Que se expande em gestos de tamanha nobreza...

Mas todos os caminhos são indefinidos,
Não há caminhos traçados,
Todos os caminhos são construídos...
...Mas há o hiato do tempo...
E ele, o tempo, que grande gozador!
Chronos brincalhão, uniu-se a Eros e a Psiquê,
Para me fazer brincar de viver...

Imagem: Polidoro castrando Chronos, Da Caravaggio

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Alicerce para a própria Desgraça

Ah, a insuportável crueza de um ser comum!
Emocionalmente imaturo,
Analfabeto político,
Gado de corte,
A retórica tosca denuncia um cérebro vazio,
...Ser levado pela correnteza,
Moldado pelo interesse do outro,
Inerte diante da própria vida,
...E do mundo,
Beirando abismo colossal,
E torna-se fundação mais que perfeita,
Da construção alheia...
Sem pensar,
Sem discernir,
...Toda sua ação advém de um simples empurrão,
Direcionado,
E ele vai...
Humilhado,
Castrado,
Sem mesmo o saber...
Agente inútil para a vida,
No seio de manada tresloucada,
Em nada interfere no meio,
...Alicerce político da própria desgraça...

Imagem: WEB Protestos

Novo Tempo de Trevas

Hoje, 2016
Invade-me sensação, sem melindres,
Sem dó, sem piedade...
Mesma sensação que tinha há muito, muito tempo,
Antes, 1976
Anos idos da ditadura militar...
Anos inúteis para entender, de fato, o mundo...
Antes, 1976
Ali, sentia-se que tudo estava no seu devido lugar,
Que nada de mais acontecia, que o mundo era ingênuo,
Puro como a música da jovem guarda...
Antes, 1976
Só que não, tudo acontecia...
Coisas horríveis aconteciam aqui,
Nos bastidores da paz...
Antes, 1976
Vida pulsava para além de nós,
Mas não nos era permitido saber, sentir, ver...gozar...
Antes, 1976
Ouvia-se Linha do Horizonte,
Mas não se sabia o que havia Além do Horizonte,
Antes, 1976
Sou único...
Não há ninguém como eu...deformado,
E o mundo é perfeito...
Antes, 1976
Éramos seres idiotizados...e inocentes,
Úteis, inúteis...
Pobres de nós!
Hoje, 2016
Voltamos no tempo...
...Novo tempo de trevas... 

Imagem: Do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol 
 

Inebriante

E surgem os primeiros raios do sol...
...Eu a imaginar o calor de ti...
No nascer da manhã,
E essa invasão de desmesurada luz,
...Emana de seus olhos...
Tão vivos, tão negros e tão brilhantes,
...O cheiro da manhã é inebriante,
Como o cheiro doce de sua pele...

...E perceber toda a vibração de um dia,
Doce e caudaloso...
A delicadeza da brisa fresca...
É como a suavidade dos seus braços,
Medrosos a me envolver,
O corpo e a alma...
...Num aconchegante abraço de ternura...e paz...

Imagem: WEB
 

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Doce Aura

Abrem-se círculos de afetos,
Anima-se o espírito,
O que sinto é base,
Base de ilusão?!

O que não sinto...
Mas é,
Percebo?!
Doce aura que me ilude...

Sujeito-me a isso,
Sujeito-me a ti...
E isso está em mim,
E reinvento-me no outro.

Numa costura de palavras,
Costura de afetos,
Medo e esperança se entrelaçam,
A solução é simples...

...É a beleza da vida.

Imagem: WEB

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Primavera

Primavera,
Desponta,
No nosso horizonte...

Desfazem-se amarras,
Severo inverno,
Do corpo,
Sinais de erupção vulcânica.

Cores,
Odores de flores,
Verdes amores,
...E alegria.

Abre na lembrança,
O sorriso gigante, distante,
Infante...

Mas,
É só mirar,
Nem está tão adiante,
Só imaginar...
E o sorriso volta,
Já, já...a iluminar.

Imagem: WEB

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Deixe eu inventar...Beija-flor

Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade...

Quero amor de beija-flor,
No meu jardim de fantasias,
Ah, não há solidão...
Para quem consegue olhar,
E se encantar,
Com a beleza do mundo.

Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade...

Amo,
Amo muito,
Toda essa beleza,
Ao redor,
E quero ver,
Ver muito mais,
Com aquele olhar.


Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade...

O brilho daquele olhar,
Faz tremer a lua...de tamanha inveja,
E o mel,
Que da boca lhe escorre,
Poderia adoçar o mundo inteiro.


Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade...

Somos um instante-já,
Momento mágico,
Que jamais existiu,
...Que não voltará a existir,
Mas que É...
...No tempo.


Deixe eu inventar...
...Amores,
....Odores,
.....Humores,
......Ardores,
...E felicidade.

Imagem: WEB

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

M...de Menino (Efebo)

Irrompe num sorriso,
Da penumbra da noite,
Doçura do dia,

A poesia daquele olhar,
Abre o sol da manhã,
Doce ilusão,
Loucura do coração,

Belo como o sol,
Da primavera,
Que desperta para além de desejos,
Puros sentimentos,

Doce criatura,
Efebo apenas emerso,
Pleno de energia,
...E vontade de saber,

Suave como a brisa da manhã,
Cedinho se faz gigante,
...E envolve a alma secular,
Ressecada pela vida,

Suas ondas de mar,
Sugerem grande movimento,
Faz a alma rodopiar, dançar sem parar,
...E faz cantar.

Imagem: WEB

Sombras

Sombras da noite,
Ardor de desejos,
Calor das paixões,
Incendeiam corpo e alma,

E pulsa, pulsa, pulsa,
Corações ufanos,
E trepidam chamas na fogueira das vontades,

Amor ardendo...
Aceso o júbilo nas sombras,
Suave a compulsão,

Que escorre,
Escorre nas veias,
Amor liquefeito,
Vermelho e viscoso,

Fervilha inquietação,
Entregue à sua imensidão,
Mundo desconhecido...
Pulula imaginação.

Imagem: Michelangelo's Tytus

terça-feira, 6 de setembro de 2016

De mansinho

De mansinho,
O passado engole o futuro,
Constói pontes...
Para reconstruir os caminhos,
Da casa Grande.

De mansinho,
Produz, assim, uma engenharia do caos...
Para o povo,
A suposta ralé...que tanto incomoda...

De mansinho,
Pisoteia com galhardia,
A esperança de milhões,
Recém saídos da fome,
Que já dá sinais de vida,
E renascimento.

De mansinho,
O tão sonhado abrigo,
E por muitos alcançado,
Rui como castelo de cartas.

De mansinho,
A esperança torna-se pasto,
Para os algozes da pátria.

Pátria amada...idolatrada,
Salve, salve...
Desde sempre...ultrajada.

Imagem: "Inferno" Satan as described by Dante and painted by Botticelli

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Solidão

Solidão nos
Desertos da
Existência,
Solidão nos
Rincões do
Sertão,

Solidão nas
Ruas da
Cidade,
...Repleta de
Mulambos humanos,
à beira dos
Abismos da fome,

Solidão nos salões
Burgueses,
...Bonjour, Messieurs, Dames!
à beira dos
Abismos da alma,

...Todos se enganam...
E espreitam a morte.

A vida sentida,
...Repleta de solidões.

Imagem: WEB