terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Perigo nas Cercanias da Vida

Por estes dias, tive um pensamento revelador,
Sabe, acho que nunca amei!
Será que o enorme sentido de liberdade,
Que há muito se enraizou em mim,
Nunca me permitiu amar?!
Ou será este sentido de liberdade uma autoproteção  tão eficaz,
Que nunca sequer percebi seus efeitos?!
É verdade, vivi paixões loucas pela vida afora...
Paixões que só o desejo compreende,
Paixão por quem, definitivamente, não podia amar,
Mas amar, acho que não!
Só não consegui definir ainda se fui eu que não permiti,
Ou se ninguém ainda havia conseguido chegar em mim,
E por que pensar nisso exatamente agora?!
Há perigo nas cercanias da vida...

Catarse & Gozo

Não sou poeta absolutamente,
E jamais pretendi sê-lo,
Apenas me jogo em catarses,
Experimento travessuras com a língua,
Ejaculando letrinhas,
Emito discursos sem que, às vezes, tenham nenhum nexo,
Sem sexo, ou anexo,
Mas que são deveras sexualizados,
Transformo dores, horrores e doçuras em palavras vãs.
Para mim, acumula-las, de nada serve,
Então esvazio a alma daquilo que se avoluma,
E incomoda,
Emito esse acúmulo de mais de gozar para além de mim,
E nesse exato momento de descuido verborrágico,
Desconecto-me de espíritos rasos.
...e gozo, gozo, gozo, gozo, tornando-me raso também...

Afagos de Ausências

Por que despertar esse desejo?!
Para cumprir um papel nesse louco mundo perverso e gozador?!
Ah, minha fortaleza é tão frágil!
Sou um enganador,
Doce ilusão que sobrevive exatamente por não vir à luz,
Por que despertar esse desejo?!
Se há muito encasulei no breu o meu afeto,
E apaguei todas as luzes,
Sobrevivo dos afagos de ausências,
Por que despertar esse desejo?!
Se não podes chegar a mim no corpo em que habito?!
Mas, assim mesmo, vou renascendo pelo caminho,
Renasço a cada instante absoluto em que nesse mundo,
Eterno e perverso gozador,
Me fazes acordar para sonhar...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Cartografia

Também tenho cicatrizes n'alma,
E as afago com carinho...
Não porque a dor original ainda incomode,
Afago-as porque elas me definem,
Gritam, dizem de mim...
Fazem parte da minha cartografia,
Do corpo profundamente marcado,
E projetam-me para tudo o que posso ser...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Faltas

Quem sou eu?!
Quem és tu?!
Tu só existes como projeção do meu avesso,
O avesso onde não és,
E onde, de fato, também não sou,
O avesso que se define num nada por trás de mim,
Minha deliciosa possibilidade de não ser,
Se não fosse o teu nada, me serias indiferente,
Enfim, somos os avessos de duas ilusões,
E transformamos o sublime nada no paraíso de nossas efêmeras paixões,
Loucos, gozamos em nossos avessos, gozamos onde não somos,
E eu te amo!
Te amo onde encontro a minha falta,
E te odeio porque a tens...
Na verdade, nos enganamos, e nos vemos presos na armadilha de deus...
Ah, deus, esse ser mitológico que nos produziu para o não gozo, ou para o seu próprio gozo...
Nos transformando em brinquedo para a sua eternidade,
E o ódio que me faz te amar, ilusoriamente me completa,
A ilusão do amor, engendrada por ele (o dito deus), me define eternamente teu,
Isso quer dizer que te amo?!
Sim, eu te amo!
Eu te amo porque, docemente, denuncias a minha falta!
Sim, eu te amo!
Eu te amo exatamente onde não sou, e nunca serei,
E onde tu...
Tu jamais poderás existir.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O Vazio do Tempo

E assim se foi o sopro de vida,
Na leveza de uma brisa suave,
Como um doce farfalhar de asas,
Percebe-se, assim, o vazio do tempo,
E ali onde já não sou,
Percebo, atônito, que já havia partido,
Estou morto,
Há muito, muito tempo...
E hoje transmutado em história,
Sou memória de vida não vivida, bem vivida, mal vivida,
A suprir os vácuos de qualquer tempo.

Aconchego do Olhar

Vem me abraçar,
Sentir o meu ocaso,
Do gozo nos teus braços,
Identificação de afetos...
"Sou fácil de lidar",
É tão doce esse projetar,
Como o aconchego do olhar,
Seu perfeito habitat,
Vem colher esse abraçar,
Não paro de me identificar...
Desde o dia em que o acaso,
Projetou-me o teu olhar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A Morte do Profissional Idealista

A sensação que invade a alma,
De maneira tão devastadora,
É a de chegar ao termo de uma ilusão.
Mas, o tempo passou,
Um tempo de muito trabalho,
De muito estudo e de muito apoio,
Por acreditar no objeto,
E assim tentar acreditar no grande engodo,
Acreditar no discurso,
Acreditar na possibilidade,
Pricipalmente, possibilidade de ética, de lisura, de desenvolvimento...
Mas tudo que não tem muita consistência termina por ruir..
Pois, como já dizia o filósofo, até "tudo que é sólido se desmancha no ar"?!
Será que nada mais é possível, nad mais será possível?!
Enquanto não houver ética,
Enquanto não houver seriedade na administração pública,
Menos politicagem!
Fica muito difícil ser possível.
Mas, e se, como já advertiu uma pensadora,
Ética em nossa política é algo impossível, ou mesmo, na melhor das hipóteses, algo que está muito distante?!
Mas, e quando não se consegue ver mais que isso um dia seja possível?!
Quando se esgota toda a possibilidade de empreender uma saída?!
O que fazer para continuar sobrevivendo no espaço-tempo?!
Isto é algo a ser refletido...pensado...
Por mais caótica que seja a situação, mesmo no olho do furacão é preceiso refletir,
É preciso planejar a saída, esteja ela onde estiver...
Se estiver...
E assim morre um profissional idealista...
Que a eternidade cuide do seu ideal!

Nadie

No llores por nadie...
La muerte es la liberación absoluta
De los dolores de la maldita vida!
No llores por nadie...

Malas Prontas

Malas prontas...
Coração resolvido...ou, resignado.
Partir...para a terra do nunca, lugar de sonho, mágico talvez...
Uma joia rara, tipo uma pérola negra,
Encasulado no ostracismo da indiferença para o tempo...tempo de ninguém...
Prisioneiro da nobreza para a qual foi criado...talvez mal criado...
Por diversas vezes, tentou romper a casca que o prende e se perder no mundo...
Sempre se dá mal e volta.
Voltou pois, ao seu casulo...aos seus livros, 
às suas lembranças de um tempo que nunca houve...
Partiu e voltou à imensa solidão de ser ele mesmo...
O amor de deus é sublime...é ele que o sustenta...mas é um amor mítico,
Sublimação do amor.
Amigos, não os tem às pencas...graças a deus!
Sim, sua mãe, e seu amadíssimo pai o acompanharão para sempre...
Mas, hoje, são também lembranças de uma amor que teve...
Foi concebido com amor como prêmio ao ser amado...
Hoje, de fato, está só, e é apenas ele mesmo...
Cansado de doces quimeras...
Cansado de ilusões!

Acasos

A vida é feita de acasos,
Não perca o trem da sua história,
Acasos são únicos e não se repetem.

Sou Tão Velho Quanto o Mundo

Sim, sou muito velho...
Sou tão velho quanto o mundo,
Mas quero mais é viajar,
Conhecer e tocar cada pedacinho,
Por mim ainda desconhecido,
Dessa imensa obra das naturezas, divina!
Um dia, talvez, deitar e pensar:
Não há mais aonde ir, passar, o que sentir...
E então, finalmente, morrer, voltar ao pó...
Quem sabe após degustar uma garrafa de um excelente Merlot...
Sou assim, exageradamente embriagado...
Ah, sou muito mais velho que o próprio mundo...

O Ser e o Não Ser

O ser e o não ser
Se completam
Num bailado sem fim...

Coerência

Falem-me de coerência?!
Cuidar do bem-estar social,
Defender o trabalhador,
Diante da sanha voraz e criminosa,
Do capital...
Ser responsável pela fome de seus pares...
Falem-me de coerência?!
Tenho receio de tamanha...

Solidão

Solidão,
Vem dançar comigo,
Nos teus braços um abrigo,
Tua mão,
Enlouquece meus sentidos,
Explosão,
Compromete o véu caído,
Apelo vão,
Bons parceiros, quase amigos,
Solidão,
Utopias e quimeras,
Só.

A Palavra e o Silêncio

A explosão da palavra liberta por reorganização construtiva,
E não apenas para saberes novos,
Mas também para outras posturas,
Antes estabelecidas por tamponamentos culturais.
Os silêncios ensurdecedores são forjados culturalmente,
Para a docilização de corpos,
Mas, também,
No espaço-tempo do mundo,
Fervilham guerrilhas.

Ser Humano

Eis aqui um ser humano,
Que agoniza nos braços de um outro...
Provavelmente perdeu o horário do banquete,
Nos palácios,
Nas embaixadas,
Nas mansões,
Nos restaurantes de luxo,
Eis aqui um ser humano,
Que jaz à sombra de outros tantos seres humanos,
Que provavelmente não irão gostar da estética da imagem...

Humanidade

Assim caminha a obscura e perversa humanidade...
Negando-se a si mesma e construindo ilusões...
Mas, um tropeço, e o desavisado passante cai em si.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Fatos e Histórias

Hoje o sol apareceu,
Lindo!
As araucárias estão verdes,
Mas elas sempre estão verdes!
Parecem não se afetar com as tormentas do tempo,
Depois da tormenta que se abateu sobre a cidade,
Coisa feia!
Árvores caídas, casas destelhadas, pessoas em pranto,
Daqui do alto fico a olhar os que passam,
Vão e vêm!
Parecem trilhas de formigas,
Os passantes, ocupando suas vidas com afazeres cheios de sentido,
Sem sentido!
Cumprem um ritual milenar,
Viver é assim, defender-se da natureza,
Da própria, inclusive!
Criar fatos e histórias para dar sentido à vida,
Tamponar o ócio!
Cumprir a imensa necessidade humana,
De justificar o nada!

Ser Psicólogo

Ser psicólogo não é uma tarefa simples,
Também não é uma decisão isenta,
Exige antes de qualquer coisa o Ser.
Ser psicólogo é enveredar por caminhos tortuosos
À cata de fantasmas,
Para, então, com eles dialogar,
Ser psicólogo é antes de tudo ser gente,
E gente que gosta de gente, de fato.
E gostar de gente não é apenas acolher, em parte, o Outro,
Mas a complexidade de um ser dual,
Pele de asno, hidra com duas cabeças.
 Enfim, ser psicólogo, na relação com esse Outro,
É eximir-se de preconceitos, de julgamentos,
E, tecnicamente, de si mesmo nessa relação,
Respeitando a sua decisão.
Além disso, ser psicólogo, é fazer uma busca constante de muitos saberes,
Em diversas dimensões do conhecimento humano.
Ser psicólogo é acolher as dores do existir,
E não só a desse Outro, mas também as suas próprias,
Possibilitando por emio desse acolhimento,
Não apenas a existência em si mesma,
Ms verdadeiramente o Ser.
Ser psicólogo é saber mergulhar no mais profundo da alma humana,
E com ela jogar uma intrincada partida de xadrez,
Mas, e ao mesmo tempo, executar a exuberância de um sublime e sublimado
Tango.

A Vida

A vida é um hiato
Ao gozo absoluto,
Uma erupção
Resplandecente,
Uma explosão
Entre dois nadas
Abissais.

Povo Brasileiro

Enquanto o povo brasileiro não revisitar sua história e,
Definitivamente, enfrentar o espelho,
Ou o fato de que somos frutos de invasão e pilhagem,
Repetirá ad eternum o sintoma da corrupção,
E outras mazelas que se seguiram à farsa do descobrimento.
Isso é como encarar-se de frente,
Sem subterfúgios, sem deslocamentos criminosos,
Sem vilipendiar o outro, comparsa da história,
Enfim, aceitar o sintoma como tal, e a partir daí assumi-lo,
Entender suas raízes e tentar resolve-lo,
Ou aprender a lidar com ele, no intuito do bem comum,
Por isso, neste caso,
O aporte fundamental é a história, e a técnica é a sua dissecação e análise,
Para, finalmente, poder-se seguir em frente.

Alagoas

Minha estonteante terra natal!
Pedacinho de paraíso com cheiro doce de maresia,
Onde uma brisa constante circula e acaricia a pele,
Disfarçando perigosamente o poder do sol,
Escaldante e abrasador.
Ali, a docilidade e o fascismo contraíram núpcias,
Há, muito, talvez desde tempos imemoriais,
Num acordo mórbido e exterminador,
De possibilidades e humanidades.
Já não comiam a carne humana os Caetés?!
Hoje, os poderosos Caetés,
Reivindicadores dos alagados do sul,
Continuam a se banquetear,
Mas não mais puramente da carne,
Isso é refugo do processo do capital: seca, fome, miséria,
Mas da alma de suas presas, os "dóceis Caetés",
Que neste enlace, digno de uma tragédia Shakespeareana sadomasoquista,
Se complementam num gozo mortal e perene.
Um pedacinho de paraíso, repleto de verde mar,
Extensos coqueirais a se perder o olhar,
Zona da mata viçosa e caatinga, lindamente retorcida,
Onde, dócil, o artista da vida e o da arte cantam sua beleza sem igual,
E encantam, porque cumprem as determinações culturais de um Hades paradisíaco,
Sempre sob o olhar perverso e vigilante de um poder fascista,
Que os arrasta a um não pensar para além da beleza pictórica do lugar,
...e sob pena de afogamento sumário, no paraíso...
Das águas...

O Naufrágio

A humanidade não está naufragando,
Se assim fosse, há muito já estaríamos no fundo,
A humanidade é o naufrágio.
Desde que, sabiamente, entendemos e aceitamos que nosso habitat não é o centro do universo,
Mas apenas uma ínfima parte dele,
Iniciamos uma viagem profunda e necessária.
Esse foi um golpe extremamente duro em nosso narcisismo,
Mas ficamos melhores, e ainda há muito o que caminhar.
Há muito o que desconstruir da nossa profunda soberbanarcísica,
Do nosso egoísmo venal,
Até aceitarmos que somos um ínfima parte deste mesmo pequeno habitat,
E que todos que nele habitam,
Têm o mesmo direito a ele e a tudo que nele há,
Enquanto a luz solar assim o permitir.
Talvez, entender e aceitar isso, seja o grande passo,
Quiçá o definitivo e mais importante,
Para vislumbrarmos uma possível salvação de nossa humanidade.

A Farsa

Não interessa ao capital a individuação do sujeito,
Mas a confirmação da pessoa,
Da persona social e socialmente ativa,
Pois a construção de ethos desejante do que se produz em série,
É o que lhe sustenta a existência.
Um processo de (des)qualificação subjetiva,
Que levaria não apenas a um saber do impossível,
Mas a um saber da singularidade,
Desconstruiria a farsa do capital que,
Sem sustentação,
Aprofundaria sua crise e abalaria sua lógica.

Mente

Mente,
Lasciva
Mente,
Supera os limites que há
Em ti,
Mente,
Ardente
Mente,
Penetra o íntimo que há
Em mim,
Mente,
Calma
Mente,
Derrama o orgasmo que há
Em nós.

Essência de Mim

Espírito inquieto,
Romperá o invólucro,
Te queres fugir,
Essência de mim.
Onde quer que vás,
Se lograres sair,
Não te podes ir,
Sem mim.

Sublimado e Sublime

Sou a expressão de círculos termináveis e intermináveis,
De possibilidades infinitas para os desertos da alma,
Sou a explosão de um orgasmo constrito, travado,
E que se quer expandir para longe, na imensidão,
E vem e vai, e vai e vem,
Assim, num bailado sublimado e sublime,
Sou o arauto de um eterno há-de-vir,
De impossível enlace com o tempo,
Sou música suave e densa a circular um intangível ser,
Absorvo, a mim e a ti, para muito além,
Não é impossível flu-ir...

Sou Nordestino

Fui feito do sal da minha terra,
Curtido pelo sol escaldante das Alagoas...
Terra dita e perpetuada nos mandatários marechais.
Sou nordestino cabra da peste,
Destemido e guerreiro...
Sempre pronto a empunhar a espada da justiça...
E, favor de toda a minha gente...
Ogunhê!

Jerusalém

Oh, Jerusalém,
És vil e atemporal!

Quanto queres para comigo dormir?!
Paristes três filhos, mas nãos lhes ensinastes a coexistir!
Diga-me o que tanto atrai em ti?!
Jerusalém,
Quanto ainda irás cobrar para continuar a existir?!

Por que seduzes os infiéis?!
Por que a tantos encantas, e estes não te podem resistir?!
Jerusalém,
Quem hoje te paga para, assim, descaradamente, sorrir?!

Quantos ainda irás aniquilar em tuas entranhas?!
Ah, Jerusalém,
És velha e sagaz cortesã daqueles que ainda hão de vir,
Daqueles que possam te garantir a reconstrução...
De um permanente e sombrio futuro!

Finais de Tarde

Adoro os finais de tarde...
Ver o sol deitar no horizonte,
E o dia a se despedir, sereno, suave e calmamente,
E o dia a dar lugar à noite,
Cheia de mistérios, possibilidades, ilusões,
Não sei o porquê!

Tu

Sinto-te assim,
Perfeito e muito além de mim...
Sou apenas um simples fauno,
Com minha pequena flauta doce,
E que ousa em tentar te encantar,
Mas tu pareces tão distante,
Tu já conquistastes o Olimpo...
Para a ti chegar, eu tomaria, sem pestanejar, o caminho das estrelas...
Não exitaria um único segundo em me lançar na tua direção,
E, ao chegar, me embriagar desse saber e dessa imensa doçura...
Mas seria mais fácil chegar a deus, o ser impossível,
Para além da concha do universo...
Eu jamais conseguiria chegar a ti...

Duas Realidades

Sou fruto de duas realidades distintas e complementares,
Sou mescla de coração selvagem e intelecto rebuscado...
Portanto, não me tente endurecer o coração,
Nem me amolecer o intelecto,
Não há como cindir tal união em mim...

Já Sei

Não,
Não...
Não quero ver,
Não quero ouvir,
Não quero sentir,
Não quero saber,
Isso é o que dói,
Dói,
Dói...
Saber destrói?!
Não, desconstrói!
Constrói,
Já sei,
Tá aí.

Vai Chegar

Tem horas que dá uma enorme vontade de implodir,
Mas implodir o entorno, essa canalha circundante, e sumir...
Mandar todos para a puta que os pariu e, finalmente, encontrar o caminho da liberdade...
Ah, mas esse dia há de chegar, se bem me conheço...vai chegar...
E relembrando a fala do Cristo sobre o destino do templo, não sobrará pedra sobre pedra...

Sentir-te nas Palavras

O sublime que resiste à prisão da palavra,
Mas que, assim, se revela or ela...
Sublimação!
E, se revela, revela a encantadora e mais que deliciosa nobreza do ser...
Revelação!
Ah, mas ainda sou un enfant!
E essa nobre revelação me devolve a ilusão...
Submeto-me!
Persecução de um ideal?
Talvez!
Enuviamento do ideal de eu?
Provável!
Saber-te assim, imenso e caudaloso inunda e alimenta minh'alma...
Sentir-te nas palavras faz queimar a pele que arde de desejo...
Sou fogo que queima suave em meio a um deserto siberiano!

Recherche Éternelle

Espraie-se em mim um misto de admiração, espanto e medo...
Un mélange de sensations brutales...
Como prenúncio de um orgasmo divino, jamais sentido...
Penso que diante de tamanha nobreza,
Não conseguiria dizer uma única palavra...
Sou apenas um pobre infante e, portanto, como infante nesse reino, jamais serei rei...
Infantes não ascendem, infantes são naturalmente destronados...
Da profundidade de minha pequenez, percebo que é muito mais,
És a magnitude de um grande ser...
Melhor você lá e eu cá, no meu cantinho de infante...
Toujours à la recherche du royaume perdu...
Mas, mesmo assim, é muito bom sentir essa vontade imensa...
Completude ilusória, éternellement recherchée.

Existência Perfeita

Uma leve brisa sopra incessantemente sobre pradarias,
Balouçando ervas e flores do campo que adocicam o ar,
A vida e as criaturas se com-fundem, e nos irmanamos,
Faz-se, em mim, a sensação do mundo ideal,
O sonho da existência perfeita,
O sonho que, suavemente, invade a alma,
Ocupa o espírito sedento de esperança,
Esperança de amor e paz, impossíveis ao ser,
Assim nasce dia após dia, Francisco (o dito santo) em mim,
Transformando o lugar impossível em lugar de esperança, de amor e de paz.
Por favor, nunca me abandone!

Somos Seres Humanos!

Aqui se vislumbra, como um clarão atômico,
A negação pelo homem do real do poder,
Onde não se quer saber da carniça por ele produzida,
E assim caminha-se, desde sempre, nas estradas da civilização,
Como se fosse preciso ao homem,
Viver permanentemente imerso numa cegueira saramaguiana,
E o é, não nos iludamos!
Até quando alguém, desavisado, e por motivos nada altruístas,
Expõe a carniça que se produz por trás da máscara civilizada,
Emerge, de súbito, o humano, desumanizado, real!
Tal mecanismo de negação nos faz acomodar,
Nos entorpece, e nos mantém impolutos diante da existência,
Somos seres humanos!
Assim o é também nas relações com o estado,
Cujo único controle possível é a exposição de sua produção fétida,
A história está repleta desses momentos sublimes!
O homem mantém o homem serviçal para não se deparar com a própria merda,
É preciso, veementemente, negar!
Mas o que o homem esquece é que o Outro também é Outro homem,
E a merda desperta....e só ela pode libertar para a produção...de novas,
alheias, e infinitas merdas...
Talvez, no fundo, queiramos, de fato,
Nos manter juntos no inferno!

Escada da Vida Real

Essa é a escada da vida real, na capital federal,
Aqui as pessoas se encontram com a humanidade desde sempre,
Elas cagam, mijam, fodem e se drogam na calada da noite da capital...
Por perto, manchas de sangue escurecem o granito...
Merda, mijo, porra e sangue riem às gargalhadas da civilização...
E aqui deixam os vestígios de seus atos humanos para os transeuntes de cada manhã...

Liberdade-Libertação

Exerce-se o espaço de liberdade-libertação pela palavra,
Meio legítimo, demasiadamente humano,
Veículo perverso e singular pelo qual se vivenciam transferência,
E contra-transferências com o inconveniente e necessário Outro.
A palavra, expressão do pensar, liberta e incomoda.
Há tempos o método catártico tenta nos curar de nós mesmos,
E incomoda porque denuncia que não há libertação sem o viver na prisão.
Eis aqui nosso desvio do natural da Natureza!
O pensamento pode ser livrem subversivo,
Mas precisa da palavra, que o aprisiona,
Para ser para si e para o Outro.
A palavra é nosso maior símbolo de liberdade-libertação...na prisão!

Flores Brancas

Adoro flores brancas,
Mas não porque sejam indelevelmente puras,
Ou revelem algum tipo de pureza atemporal,
Mas por indicar, ao contrário, uma possibilidade de marca,
Assim como o papel branco, sem mácula,
À procura ou à espera de seu escritor,
Que penetre sua candura,
E o marque para sempre,
Adoro flores brancas,
Apenas poruqe são brancas,
Apenas porque revelam-se no bréu!
Colhi-as ontem!
Para festejar a marca do seu tempo,
Colhi-as ontem!
Para confirmar sua marca em mim...
Quiça para confirmar a marca de um tempo bom em nós...

Penetração Profunda

No caminho encontrei um esboço de raízes,
Elas sugerem um imenso desejo,
E um movimento de penetração profunda,
Lembrei do quanto ando fértil esses dias,
Terreno pronto para receber raízes profundas,
Quem sabe a penetração dessa árvore nessa terra,
Não possa dar bons frutos?!
O melhor da terra e da árvore ainda está por vir...

Virada na Direção do Tempo

O mundo está louco?! Acho que não!
Se dermos uma virada na direção do tempo,
Veremos que continuamos a ser o mesmo mundo...demasiado humano...
Mas um humano que não está e não é cantado em versos e trovas,
Nos saraus da civilização.
Ganância e intolerância não animam os saraus da humanidade,
Esses traços tão humanos, sobrevivem à margem,
E, quando em vez, nos dão o ar da graça para bagunçar a cena,
E dizer que é disso que somos de fato feitos.
E por que usar a primeira pessoa do plural nesses dois casos mais recentes,
O caso Mariana e o caso Paris, sem esquecer tantos outros,
Como o êxodo nos países árabes e a fome nos bastidores de grandes centros e no campo,
Da cena caótica desse nosso mundo globalizado?!
Por que são eventos que têm origem comum:
A ganância (desejo de subtrair do Outro) e o desejo de morte,
E aos quais somos, na mediocridade de nossas vidas tranquilas e pequeno burguesas,
Indiferentes, ou ainda pior, gozosos...
Sim, quem de nós está disposto a enfrentar a ganãncia humana,
Que se exprime pelo grande capital,
Para combater esses eventos?!
Sim, quem de nós está disposto a enfrentar as nações que invadem povos e subjugam culturas,
Simplesmente para subtrair a riqueza do Outro?!
Quem de nós está disposto a denunciar e combater aqueles que maculam a ideia da democracia,
Transformando-a numa grande mentira,
Para subjugar os demais na cena política?!
E não me venham dizer que não sabem do que estou falando.
Somos todos hipócritas, sepulcros caiados, como já disseram por ai, em algum lugar,
Que aproveitam a expressão da dor para disfarçar o imenso gozo que a miséria e a maldade promovem.
Se assim não fosse, já teríamos mudado esse mundo.



Vácuo

O que estou fazendo  aqui?!
Acho que caí numa esparrela...
De repente me vejo num vácuo,
Não sei o que me fez voar?!
Apenas, já voltei...

Autopreservação

Dói menos denunciar,
Muito menos que calar!
É uma questão de autopreservação...
Denunciar a injustiça,
Denunciar a mediocridade,
Denunciar a iniquidade,
Denunciar a pequenez de não ser,
A inquietude liberta e abre infinitos horizontes...
Só grandes almas, sedentas de liberdade o fazem!
Só espíritos livres o conseguem...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Desilusão

Sinto um frio avassalador cortando a carne,
E não é do corte primário,
Do Outro marcando o raso que fui,
É uma sensação de abandono que corrói a alma,
Desilusão que dilacera a sensibilidade,
Que outrora pululava em cascatas,
Nunca tive ilusões,
Mas já fui um enorme sonhador,
O primeiro calafrio foi assistir Chove Sobre Santiago,
Nunca senti tanto medo,
A primeira sensação de abandono, de solidão,
Sensação de que, de fato,
Uma rosa não vence o canhão...

O Existir no Tempo

Estava pensando no tempo do existir,
E no existir no tempo,
Ali onde pode caber o ser,
Ao deparar-me com esse pensamento,
Percebi como ele, o ser que existe,
É efêmero e sem vínculo com o tempo,
O ser que existe é manifestação de um nada fixado por um tempo,
Num não-tempo real,
As coisas não sabem que as nomeamos de uma forma ou de outra,
Capturamos suas imamgens e as imaginamos outras,
Fazemo-lo arbitrariamente,
Para dar conta da existência que quer ser,
E assim nomeamos tudo o que há,
Nos apropriamos da não essência das coisas,
Vinculando-as a um sentido que serve apenas a nós mesmos,
Criamos um mundo de ilusões, subjetivo e simbólico,
Mas essa nossa vinculação é apenas com aquilo que se produz no próprio tempo,
Então, pensar além do tempo seria um tanto absurdo!
Mas o absurdo já não está presente na absurda possibilidade humana do pensar?!
Fora do que pensamos não somos absolutamente nada,
Existimos apenas nesse tepo-já, imediato,
E de vínculo a tempo algum,
Onde, fora do tempo que criamos não somos,
Sequer existimos...

Já Morri

É tão deprimente, e na maioria das vezes desanimador,
Perceber o quanto as pessoas insistem,
Talvez por ignorância, ou por estarem acostumadas a "brigas de comadres",
Em discutir pessoas ao invés de estruturas...
Seria, de fato, e apenas, a simples constatação de um posicionamento político-filosófico,
Como querem alguns?!
Como não percebem que são as estruturas e os sistemas que facilitam,
Ou dificultam os eventos e as expressões humanas?!
Como não percebem que a perversão é um traço tão humana, e que a "má índole" repousa em todos,
E que por conta disso as estruturas da Cultura são uma necessidade civilizatória?!
Como não se percebe que é preciso discutir e reformular essas estruturas,
Para que se produzam pessoas melhores, civilização com futuro?!
Enquanto se discute pessoas, faz-se o jogo dos bandidos,
Que deitam e rolam com as estruturas apodrecidas,
Que os produziram e que os beneficiam...
Ou seria esta a mais transparente expressão,
Da forma como se nos apresenta,
Da índole perversa humana?!
Manter estruturas apodrecidas,
Não discutir mudanças ou reformas,
Para que se produzam cada vez mais seres execráveis,
E para que assim os "bons" os cacem,
E os matem em meio à selva humana?!
Não há dúvidas de que há um gozo relacionado a isso...
Há muito venho me cansando dessa "impossibilidade"!!!
Há muito tenho pensado que já morri!!!

Pulsões de Vida

Para além de dogmas religiosos,
É preciso celebrar o amor e comunhão,
Entre todos os povos, credos, raças, sexos, gêneros e orientações...
É preciso estimular nossas pulsões de vida,
E assim continuar a proceder,
Além das fronteiras de um único dia,
Essa é a única forma de salvaguardar o nosso efêmero existir...

Luzes

Alvorecer de um novo tempo,
Que se devolvam as luzes,
E ilumine-se a razão,
Que a razão finalmente enlace a ternura,
E promova-se o amor e a paz...sem a necessidade de um deus...

Miragem

Miragem na aridez do deserto,
Existe pela força do desejo,
Promessa de libertação para uma vida real,
Promessa de imensa sede de amar,
Enfim, promessa de desmedido amor...
Mas esconde dura realidade,
Essência do impossível,
Essência de intangível miragem...

O Mundo

O mundo só existe a partir de nós mesmos,
E do que projetamos para nós,
E para aqueles que cruzamos em nosso caminho.
Então projetemos o melhor de nós,
Para um mundo mais doce e recheado de algum amor!

My Heart is a Ghost

My heart is a ghost,
Floating among the stars,
My heart is a ghost,
Riding my sow in the dark of the emptiness,
My heart is a ghost,
Diving me in the cold of the human universe,
My heart is a ghost,
Taking me away to the eternity.

Buscas Vazias

Bang!
Bang!
My baby shot me down...
Seguindo o conselho de minha amiga Clarice,
Dia desses vou correr e abraçar a solidão,
Entregar-me de vez a seus apelos ardentes,
Não que ela me seja uma desconhecida,
Há anos dividimos os mesmos caminhos,
Nos olhamos e eu sempre desvio o olhar,
Egoísta ou egocêntrico, insisto em ignora-la!
Bang!
Bang!
My baby shot me down...
Falta-me a coragem de experimentar seu braço,
Aconchegar-me em seu colo,
Entregar-me definitivamente a este amor,
Louco, achei que havia mudado!
Mas continuo a insistir em buscas vazias,
Por seres vagos, inexistentes!
E em lugares sombrios, repletos de caricaturas humanas,
E estas só me deixam um gosto amargo na boca,
Bang!
Bang!
My baby shot me down...
Por que não experimentar e desfrutar do que se me apresenta,
tão insistente e voluptuosamente?!
Quem sabe ela, a solidão, não é a minha barata,
A ser descoberta, conquistada e degustada,
Com toda a ternura e paixão que,
De sobra, borbulha em mim?!
Bang!
Bang!
My baby shot me down...


Desnuda-me!

Desnuda-me se fores capaz,
Arrebata-me do nobre casulo,
Pois de nada adianta me rasgares a roupa,
De nada adianta me invadires o corpo,
O ser está para lá de mim mesmo,
Ele está onde sou e não onde estou,
Se não consegues me desnudar a alma,
Arrebatar-me da gélida insígnia,
Jamais me possuirás, pobre de ti!
Serás mais um a errar no engano,
E assim sigo, incólume...
...de volta ao nada abissal...

Noite

Noite,
Sinto uma inquietude n'alma...
E o corpo fervilha...insônia,
Noite,
Sinto o silêncio...
E escorre por todo o corpo...desejo,
Noite,
Sinto absoluta necessidade de me esvair...
E me esvaio...em palavras.